Quem aqui não se lembra da propaganda do Carlinhos?
Para mim, essa propaganda foi um marco. Lembro como se fosse hoje: eu em casa, vendo novela, conversando, jantando, sei lá, totalmente distraída, quando começo a ouvir aquela música, e em menos de dois segundos eu já tinha esquecido tudo que estava fazendo e colado os olhos na tela, pensando: “caralho, que música é essa???” Foi assim mesmo, como se tivesse sido enfeitiçada. Pudera. Fake Plastic Trees não é o tipo de música que você ouve e sai ileso. E diz muito sobre quem a compôs. Naquele minuto e meio da propaganda eu já soube que, quem quer fosse a banda ou cantor responsável por aquela música, certamente era alguém que sabia o que estava fazendo e não estava nesse mundo de brincadeira.
A música tocou muito nas rádios a partir daí. Acredito mesmo que o Radiohead só ficou mais conhecido no Brasil a partir desse comercial. Devo admitir que foi uma bela introdução. Não sei qual a agência responsável por ela, mas mandou muito bem. A meu ver está mais para arte do que para comercial.
Foi um momento inesquecível, desses que você conta pros netinhos na velhice: a primeira vez que ouvi Radiohead.
Bem, pra matar a saudade segue aí o vídeo (e viva o youtube!):
terça-feira, 18 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Não se leve tão a sério (ou um outro jeito de ver a “perspectiva cósmica”)
Já que ando meio devagar para composições próprias, vou divulgar aqui uns textos excelentes que li já faz um bom tempo, mas que merecem (e como!) a lembrança. Afinal, sempre estive mais para mecenas do que para artista.
O primeiro é essa pérola que o Monteiro Lobato escreveu a respeito de um quiproquó sobre sua entrada na Academia Brasileira de Letras. É um lado do Monteiro Lobato que a maioria das pessoas desconhece. Devo os créditos, porém, ao meu amigo João, que descobriu esse texto no meio de suas pesquisas para a tese de Mestrado e teve a sabedoria de publicá-lo no seu Blog. O Blog dele anda meio desativado, mas vale a visita só pelos textos antigos.
O segundo é um texto publicado no Digestivo Cultural, um site que também vale a visita. Foi escrito pelo colunista Eduardo Mineo, inspiradíssimo nas suas provocações sobre deus e o diabo.
Divirtam-se!
(1)
“(...) O arremate final do paradigma do ‘engraçado arrependido’ vem com um episódio de seu próprio criador, Monteiro Lobato. Já que tomamos seu pequeno conto de 1918 como inspiração para compreender a auto-imagem destes humoristas brasileiros da Belle Époque, é impossível não concluir com a menção a um episódio semelhante quando se propõe, pela terceira vez, desta feita no ano de 1944, o nome do próprio Lobato para a Academia Brasileira de Letras. Antes da consumação do episódio, contudo, é ele mesmo que resolve desistir da candidatura, decisão que parecia um tanto óbvia, já que era inimaginável que o escritor participasse das mesmas reuniões com um acadêmico pelo qual ele nutria um ódio explícito – Getúlio Vargas. O mais importante, contudo, para ilustrar o paradigma do ‘engraçado arrependido’, vem numa carta furibunda que Lobato escreve para [o amigo] Cassiano Ricardo, naquele mesmo ano:
Chegaram-me ao ouvido tantas intrigas a respeito da minha entrada lá, que resolvi pôr fim à situação com um coice, mas estava a mil léguas de supor que ias assim tão magoado. Não culpe o Menotti. Ele fez tudo direitinho. O ruim, o peste, sou eu só. E sabe por quê? Porque não consigo levar a sério coisa alguma nesse indecentíssimo mundo. Academia, presidente, papa, bispos, generais: tudo bonecos, sacos de tripa com muita merda por dentro e só vaidades e bobagenzinhas por fora. A humanidade: um sórdido formigueiro de trágicos pequeninos bípedes a se agitarem num planetinha dos mais vagabundos, um milhão de vezes menor que o Sol, o qual é outra pulga num sistema onde há sóis milhões de vezes maior[es] do que ele. Tudo pulga e pulgões. Tudo zero. Tudo nada. E tudo vaidade das vaidades. O Eclesiastes está certo – é a única coisa certa no mundo – a única coisa decente que o bichinho homem jamais escreveu. Tudo é vaidade e aflição de espírito (...) Você está errado. Toma a sério demais coisas e bichos que não merecem ser tomados a sério. Toma a sério um planeta que no nosso próprio sistema planetário não passa duma isca de pó. Abra um livro de Astronomia e envergonhe-se de fazer parte do rebanho de pulgões que parasita esta isca de pó. Imortais, imortalidade, latas, instituições, reis, presidentes, Getúlio, Armando, Churchill, Stalin, Hitler, tutti quanti: pulguinhas magras convencidas de que são gordas. Literatura: bichinhos dizendo o que pensam de outros bichinhos. Tudo bicharia. Bicheira. Tudo bobagem. Ponha o Eclesiastes em teu criado-mudo e faça dele teu livro de cabeceira – e ria-se comigo do sórdido rebanho que rola às cegas para o abismo da morte, um a falar mal do outro, um a aporrinhar o outro, a roubar o outro, a enganar o outro, a disputar latas vazias, etc. etc.
Mude de ponto de vista e sararás – e rirás do que agora te faz sofrer. Dispa as grandes gentes e veja como são grotescas. Ponha o papa nu, de cuecas, com a piroquinha murcha pendurada e veja se há uma beata que tenha coragem de lhe beijar o pé chupelento. Tome o figurão mais importante aí do Rio e veja-o no banheiro, de cócoras na ‘Pescada’, peidando – botando para fora os resíduos fedorentos do que comeu no [Bar] Brama. E vai você aborrecer-se por causa deste cagão?
Vanitas vanitatem. Tudo é vaidade e aflição de espírito. Distribua um cacho de bananas para os imortais que te aporrinharem por causa do Lobato e ria-se, e vá lavar a alma com um chope no Simpatia. Tome um por você e outro por mim – dos grandes. E ria-se, ria-se, pois só o riso nos salva.”
(Excertos extraídos de: SALIBA, Elias Thomé. – Raízes do Riso: a representação humorística na história brasileira – da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. – São Paulo: Companhia das Letras, 2002. – pp. 147-148)."
(2)
Não ria!
http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2582
O primeiro é essa pérola que o Monteiro Lobato escreveu a respeito de um quiproquó sobre sua entrada na Academia Brasileira de Letras. É um lado do Monteiro Lobato que a maioria das pessoas desconhece. Devo os créditos, porém, ao meu amigo João, que descobriu esse texto no meio de suas pesquisas para a tese de Mestrado e teve a sabedoria de publicá-lo no seu Blog. O Blog dele anda meio desativado, mas vale a visita só pelos textos antigos.
O segundo é um texto publicado no Digestivo Cultural, um site que também vale a visita. Foi escrito pelo colunista Eduardo Mineo, inspiradíssimo nas suas provocações sobre deus e o diabo.
Divirtam-se!
(1)
“(...) O arremate final do paradigma do ‘engraçado arrependido’ vem com um episódio de seu próprio criador, Monteiro Lobato. Já que tomamos seu pequeno conto de 1918 como inspiração para compreender a auto-imagem destes humoristas brasileiros da Belle Époque, é impossível não concluir com a menção a um episódio semelhante quando se propõe, pela terceira vez, desta feita no ano de 1944, o nome do próprio Lobato para a Academia Brasileira de Letras. Antes da consumação do episódio, contudo, é ele mesmo que resolve desistir da candidatura, decisão que parecia um tanto óbvia, já que era inimaginável que o escritor participasse das mesmas reuniões com um acadêmico pelo qual ele nutria um ódio explícito – Getúlio Vargas. O mais importante, contudo, para ilustrar o paradigma do ‘engraçado arrependido’, vem numa carta furibunda que Lobato escreve para [o amigo] Cassiano Ricardo, naquele mesmo ano:
Chegaram-me ao ouvido tantas intrigas a respeito da minha entrada lá, que resolvi pôr fim à situação com um coice, mas estava a mil léguas de supor que ias assim tão magoado. Não culpe o Menotti. Ele fez tudo direitinho. O ruim, o peste, sou eu só. E sabe por quê? Porque não consigo levar a sério coisa alguma nesse indecentíssimo mundo. Academia, presidente, papa, bispos, generais: tudo bonecos, sacos de tripa com muita merda por dentro e só vaidades e bobagenzinhas por fora. A humanidade: um sórdido formigueiro de trágicos pequeninos bípedes a se agitarem num planetinha dos mais vagabundos, um milhão de vezes menor que o Sol, o qual é outra pulga num sistema onde há sóis milhões de vezes maior[es] do que ele. Tudo pulga e pulgões. Tudo zero. Tudo nada. E tudo vaidade das vaidades. O Eclesiastes está certo – é a única coisa certa no mundo – a única coisa decente que o bichinho homem jamais escreveu. Tudo é vaidade e aflição de espírito (...) Você está errado. Toma a sério demais coisas e bichos que não merecem ser tomados a sério. Toma a sério um planeta que no nosso próprio sistema planetário não passa duma isca de pó. Abra um livro de Astronomia e envergonhe-se de fazer parte do rebanho de pulgões que parasita esta isca de pó. Imortais, imortalidade, latas, instituições, reis, presidentes, Getúlio, Armando, Churchill, Stalin, Hitler, tutti quanti: pulguinhas magras convencidas de que são gordas. Literatura: bichinhos dizendo o que pensam de outros bichinhos. Tudo bicharia. Bicheira. Tudo bobagem. Ponha o Eclesiastes em teu criado-mudo e faça dele teu livro de cabeceira – e ria-se comigo do sórdido rebanho que rola às cegas para o abismo da morte, um a falar mal do outro, um a aporrinhar o outro, a roubar o outro, a enganar o outro, a disputar latas vazias, etc. etc.
Mude de ponto de vista e sararás – e rirás do que agora te faz sofrer. Dispa as grandes gentes e veja como são grotescas. Ponha o papa nu, de cuecas, com a piroquinha murcha pendurada e veja se há uma beata que tenha coragem de lhe beijar o pé chupelento. Tome o figurão mais importante aí do Rio e veja-o no banheiro, de cócoras na ‘Pescada’, peidando – botando para fora os resíduos fedorentos do que comeu no [Bar] Brama. E vai você aborrecer-se por causa deste cagão?
Vanitas vanitatem. Tudo é vaidade e aflição de espírito. Distribua um cacho de bananas para os imortais que te aporrinharem por causa do Lobato e ria-se, e vá lavar a alma com um chope no Simpatia. Tome um por você e outro por mim – dos grandes. E ria-se, ria-se, pois só o riso nos salva.”
(Excertos extraídos de: SALIBA, Elias Thomé. – Raízes do Riso: a representação humorística na história brasileira – da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. – São Paulo: Companhia das Letras, 2002. – pp. 147-148)."
(2)
Não ria!
http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2582
Amy Winehouse e a farra criativa
Hoje ouvi no rádio a seguinte notícia: “O dono da gravadora que produz os CDs de Amy Winehouse disse que ouviu demos de novas músicas da cantora e classificou o trabalho como sensacional.”
Mas será o Benedito?! Quanto mais ela tenta se destruir mais o talento dela brilha?? Esse tipo de situação tem cheiro de ironia celestial... Pense bem: enquanto a maioria dos mortais faz tudo conforme o figurino, ou seja, trabalha, estuda, prepara currículo, acorda cedo, guarda dinheiro, vai ao médico, faz exercícios, come frutas, legumes e verduras, ela fica lá enchendo a cara, cheirando até o nariz fazer bico e borrocando os olhos com delineador. Mas quando resolve trabalhar um pouquinho, nos curtos intervalos de lucidez entre uma rehab e outra, eis que o gênio aparece e, sem esforço ou disciplina alguns, uma nova obra-prima é gerada.
É o mito do artista boêmio se revitalizando mais uma vez. De tempos em tempos parece que precisamos deles pra quebrar a monotonia. Dá pra imaginar, por exemplo, a Marilyn Monroe morrendo velhinha, cheia de plásticas e netinhos? Dá pra imaginar o Kurt Cobain cortando a grama do jardim e morrendo de infarto aos 70 anos de idade? Não, não dá, não tem o menor glamour. Até a música clássica tem exemplos assim. Quem não se lembra do embate Mozart x Salieri no filme Amadeus? Salieri era um compositor de certo talento da época, esforçado e disciplinado, mas teve sua obra ofuscada pelo brilho de Mozart. Já Mozart era um fanfarrão, mas quanto mais farra ele fazia, melhor sua música ficava.
Alguém por aí já inventou a expressão “ócio criativo”. Eu estou pensando em cunhar a expressão “farra criativa”. Ah, se fosse fácil assim, né? Se bastasse cortar a orelha pra virar Van Gogh, ou se bastasse casar oito vezes pra virar Vinícius, ou se bastasse se entupir de drogas pra virar Amy. Não, não... a “engenharia reversa” não se aplica à vida, por isso em todo caso é melhor continuar pagando a previdência privada..
Mas será o Benedito?! Quanto mais ela tenta se destruir mais o talento dela brilha?? Esse tipo de situação tem cheiro de ironia celestial... Pense bem: enquanto a maioria dos mortais faz tudo conforme o figurino, ou seja, trabalha, estuda, prepara currículo, acorda cedo, guarda dinheiro, vai ao médico, faz exercícios, come frutas, legumes e verduras, ela fica lá enchendo a cara, cheirando até o nariz fazer bico e borrocando os olhos com delineador. Mas quando resolve trabalhar um pouquinho, nos curtos intervalos de lucidez entre uma rehab e outra, eis que o gênio aparece e, sem esforço ou disciplina alguns, uma nova obra-prima é gerada.
É o mito do artista boêmio se revitalizando mais uma vez. De tempos em tempos parece que precisamos deles pra quebrar a monotonia. Dá pra imaginar, por exemplo, a Marilyn Monroe morrendo velhinha, cheia de plásticas e netinhos? Dá pra imaginar o Kurt Cobain cortando a grama do jardim e morrendo de infarto aos 70 anos de idade? Não, não dá, não tem o menor glamour. Até a música clássica tem exemplos assim. Quem não se lembra do embate Mozart x Salieri no filme Amadeus? Salieri era um compositor de certo talento da época, esforçado e disciplinado, mas teve sua obra ofuscada pelo brilho de Mozart. Já Mozart era um fanfarrão, mas quanto mais farra ele fazia, melhor sua música ficava.
Alguém por aí já inventou a expressão “ócio criativo”. Eu estou pensando em cunhar a expressão “farra criativa”. Ah, se fosse fácil assim, né? Se bastasse cortar a orelha pra virar Van Gogh, ou se bastasse casar oito vezes pra virar Vinícius, ou se bastasse se entupir de drogas pra virar Amy. Não, não... a “engenharia reversa” não se aplica à vida, por isso em todo caso é melhor continuar pagando a previdência privada..
terça-feira, 4 de novembro de 2008
WAGNER & BEETHOVEN
Esse foi o melhor blog que me apareceu nos últimos tempos, e olha que tenho visto vários.
Tô rindo que nem besta aqui...
http://wagnerebeethoven.blogspot.com/
"O CÂNONE DA MÚSICA ERUDITA OCIDENTAL É PEQUENO DEMAIS PARA NÓS DOIS, CARA"
Tô rindo que nem besta aqui...
http://wagnerebeethoven.blogspot.com/
"O CÂNONE DA MÚSICA ERUDITA OCIDENTAL É PEQUENO DEMAIS PARA NÓS DOIS, CARA"
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Uma estranha na Mostra
Alguns amigos me acham “alternativa”. Já virou até motivo de piada, quando vamos ao cinema o pessoal já pergunta: “Foi a Giovana que escolheu o filme?? Xiiiii....”. Nada contra, eu me divirto e não faço o menor esforço pra mudar essa imagem! O problema é que descobri que eu, como alternativa, ainda sou muito careta. Tudo por causa da 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Pra começar, esta é a 32ª (trigésima segunda!) Mostra realizada por aqui e a primeira de que eu participo. Pra falar a verdade, acho que é a primeira de que eu tomo conhecimento. Posso até ter ouvido falar dela nos outros anos, mas era uma informação que passava despercebida.
Esse ano não só tomei conhecimento como me empolguei e resolvi me aventurar pra valer nessa maratona. Mas a primeira dificuldade veio logo de cara, na minha primeira “cheirada” no site oficial do evento: como escolher entre quase 500 filmes diferentes, dos quais eu nunca ouvi falar?! Fiquei completamente desnorteada. Acabei fazendo uma pequena seleção baseada em comentários de jornais e nos meus instintos. Como isso não foi suficiente, tive que aplicar também o critério geográfico, fazendo escolhas que contemplassem os lugares mais variados do planeta onde se faz cinema, do Japão até a Etiópia. E completei buscando também escolher salas variadas, aproveitando assim pra “dar uma geral” nos cinemas de São Paulo.
Bem, a maratona começou e a experiência até agora tem sido.... interessante.
Eu diria que as pessoas que freqüentam a Mostra são, estas sim, alternativas (pra provar, mais uma vez, que tudo é relativo!). Uma das primeiras curiosidades que matei foi como as pessoas arrumam tempo para ver três, às vezes até quatro filmes por dia. Descobri que muita gente tira férias só pra acompanhar a Mostra. Também reparei que, neste circuito “alternativo”, a moda entre os homens é ter barba. “Osamas Bin Laden” estão aos montes por aí assistindo filmes B. Vi até um que tinha uma espécie de trança na barba, como um penteado preso com elásticos, não sei bem como descrever. Muito criativo, nunca vi nada parecido. Sapatos e óculos coloridos são a regra. Mulheres de cabelos curtos e homens de cabelo comprido também. Enfim, tudo aquilo que seria considerado ultra-subversivo no meu mundinho “Dilbert” era o padrão ali. Acho desnecessário mas prudente esclarecer que isso não é nenhum juízo de valor, apenas observações de uma espectadora muito curiosa.
Os filmes que vi até agora também só me fazem pensar que ainda sou muito principiante no mundo alternativo. Comecei com Ingmar Bergman, que ganhou uma retrospectiva especial nessa Mostra. Vi Sede de Paixões, um filme com algumas cenas realmente brilhantes, mas cuja mensagem não me fisgou. Na verdade acho que não entendi a mensagem. A meu ver o filme bem que poderia se chamar Mulheres a Beira de Um Ataque de Nervos, se bobear o Almodóvar se inspirou aí pra fazer o seu... A personagem principal, uma ex-bailarina chamada Rut, era tão irritante que acho que se eu a encontrasse na rua eu bateria nela! Se era essa a intenção do Bergman, ele teve sucesso!
O segundo filme com certeza vale muitos créditos para o meu diploma de alternativa. É um filme do Cazaquistão chamado Tulpan, sobre um rapaz que, na contra-mão do que se esperaria de um jovem nos dias de hoje, prefere viver no meio do deserto como pastor de ovelhas ao invés de viver na cidade. E tem que lutar para isso. Achei fantástico poder ver como vivem famílias isoladas no meio das estepes do Cazaquistão, afinal, onde mais eu poderia ver esse tipo de coisa? E tudo muito realista e com boas doses de humor. Mas ainda não sei se gostei de ver uma ovelha dando à luz e o rapaz fazendo respiração boca-a-boca no filhotinho recém-nascido para salvá-lo. Talvez ainda seja um pouco demais para mim...
No fim das contas o que eu mais gostei mesmo até agora foi de ver O Poderoso Chefão na telona. Foi uma experiência inesquecível (morram de inveja, hahaha). Michael Corleone continua arrancando suspiros...
Mas ainda tem muito mais pela frente. Muito mais Ingmar Bergman, muito filme chinês, japonês, polonês, francês, belga, alemão, chileno e até americano! Quem sabe até o final da Mostra eu já não estou me sentindo uma insider?!
Pra começar, esta é a 32ª (trigésima segunda!) Mostra realizada por aqui e a primeira de que eu participo. Pra falar a verdade, acho que é a primeira de que eu tomo conhecimento. Posso até ter ouvido falar dela nos outros anos, mas era uma informação que passava despercebida.
Esse ano não só tomei conhecimento como me empolguei e resolvi me aventurar pra valer nessa maratona. Mas a primeira dificuldade veio logo de cara, na minha primeira “cheirada” no site oficial do evento: como escolher entre quase 500 filmes diferentes, dos quais eu nunca ouvi falar?! Fiquei completamente desnorteada. Acabei fazendo uma pequena seleção baseada em comentários de jornais e nos meus instintos. Como isso não foi suficiente, tive que aplicar também o critério geográfico, fazendo escolhas que contemplassem os lugares mais variados do planeta onde se faz cinema, do Japão até a Etiópia. E completei buscando também escolher salas variadas, aproveitando assim pra “dar uma geral” nos cinemas de São Paulo.
Bem, a maratona começou e a experiência até agora tem sido.... interessante.
Eu diria que as pessoas que freqüentam a Mostra são, estas sim, alternativas (pra provar, mais uma vez, que tudo é relativo!). Uma das primeiras curiosidades que matei foi como as pessoas arrumam tempo para ver três, às vezes até quatro filmes por dia. Descobri que muita gente tira férias só pra acompanhar a Mostra. Também reparei que, neste circuito “alternativo”, a moda entre os homens é ter barba. “Osamas Bin Laden” estão aos montes por aí assistindo filmes B. Vi até um que tinha uma espécie de trança na barba, como um penteado preso com elásticos, não sei bem como descrever. Muito criativo, nunca vi nada parecido. Sapatos e óculos coloridos são a regra. Mulheres de cabelos curtos e homens de cabelo comprido também. Enfim, tudo aquilo que seria considerado ultra-subversivo no meu mundinho “Dilbert” era o padrão ali. Acho desnecessário mas prudente esclarecer que isso não é nenhum juízo de valor, apenas observações de uma espectadora muito curiosa.
Os filmes que vi até agora também só me fazem pensar que ainda sou muito principiante no mundo alternativo. Comecei com Ingmar Bergman, que ganhou uma retrospectiva especial nessa Mostra. Vi Sede de Paixões, um filme com algumas cenas realmente brilhantes, mas cuja mensagem não me fisgou. Na verdade acho que não entendi a mensagem. A meu ver o filme bem que poderia se chamar Mulheres a Beira de Um Ataque de Nervos, se bobear o Almodóvar se inspirou aí pra fazer o seu... A personagem principal, uma ex-bailarina chamada Rut, era tão irritante que acho que se eu a encontrasse na rua eu bateria nela! Se era essa a intenção do Bergman, ele teve sucesso!
O segundo filme com certeza vale muitos créditos para o meu diploma de alternativa. É um filme do Cazaquistão chamado Tulpan, sobre um rapaz que, na contra-mão do que se esperaria de um jovem nos dias de hoje, prefere viver no meio do deserto como pastor de ovelhas ao invés de viver na cidade. E tem que lutar para isso. Achei fantástico poder ver como vivem famílias isoladas no meio das estepes do Cazaquistão, afinal, onde mais eu poderia ver esse tipo de coisa? E tudo muito realista e com boas doses de humor. Mas ainda não sei se gostei de ver uma ovelha dando à luz e o rapaz fazendo respiração boca-a-boca no filhotinho recém-nascido para salvá-lo. Talvez ainda seja um pouco demais para mim...
No fim das contas o que eu mais gostei mesmo até agora foi de ver O Poderoso Chefão na telona. Foi uma experiência inesquecível (morram de inveja, hahaha). Michael Corleone continua arrancando suspiros...
Mas ainda tem muito mais pela frente. Muito mais Ingmar Bergman, muito filme chinês, japonês, polonês, francês, belga, alemão, chileno e até americano! Quem sabe até o final da Mostra eu já não estou me sentindo uma insider?!
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Todo mundo tem uma história com a Sonata ao Luar
Exagero? É, sim, mas como título soa bem!
O caso é que eu já ouvi várias histórias relacionadas com essa música. Sempre que se fala dela alguém comenta: “Nossa, a minha mãe tocava essa música” ou “Puxa, eu aprendi a tocar essa música para o fulano”. É uma música conhecida, claro, mas de um jeito diferente. Parece que ela tem uma vocação pra ficar associada com acontecimentos ou pessoas na nossa memória.
Eu tenho uma história com ela também, que contarei agora. Se você conhecer alguma, conte aqui também!
Quando eu estava no 2º colegial, conheci a Tarsila. Tarsila se mudou para a escola em que eu estudava no segundo ano e logo ficamos amigas. Como nós duas achávamos aquela escola fraca demais e nós duas tínhamos o objetivo de passar na Fuvest, resolvemos estudar juntas por conta própria, todas as tardes. Ela morava perto da escola, então a casa dela acabou se tornando nosso quartel-general. Eu ia para lá quase todos os dias depois da aula e assim passamos muitas tardes juntas. Como ninguém é ferro, muitas vezes a gente não estudava coisa nenhuma e gastava horas conversando sobre a vida. Provavelmente aprendi mais nessas conversas do que com as apostilas do Anglo...
Bem, na casa dela também havia um piano e Tarsila tocava muito bem. Ela era uma artista até o último fio de cabelo, impetuosa e frágil como só os verdadeiros artistas sabem ser. Sabia desenhar, escrever, cantar, tocar piano e se meter em confusão como ninguém. Numa dessas tardes, ela tocou uma música chamada Sonata ao Luar, da qual eu nunca tinha ouvido falar, mas que nunca mais esqueci. Naquela época eu não sabia nada de Beethoven. Sabia que era um desses compositores mais famosos, talvez aquele que tinha ficado surdo, mas eu não tinha muita certeza, eu sempre confundia Beethoven e Mozart. Mas o meu coração já sabia quem era Beethoven e reconheceu naquela música algo de muito especial que só começaria a se revelar anos mais tarde.
Depois disso ainda pedi para que ela tocasse a sonata muitas outras vezes. Não todos os dias, porque não é todo dia que pede Beethoven, mas sempre que sentia necessidade de retornar àquele refúgio secreto no coração, àquele lugar ainda desconhecido, mas tão familiar.
Essa é a minha lembrança com a Sonata ao Luar. Em meio ao turbilhão de sonhos e medos da adolescência, aquele oásis, aquele mundo paralelo, alheio de todas as preocupações mundanas, que a Tarsila criava quando tocava a Sonata ao Luar.
O caso é que eu já ouvi várias histórias relacionadas com essa música. Sempre que se fala dela alguém comenta: “Nossa, a minha mãe tocava essa música” ou “Puxa, eu aprendi a tocar essa música para o fulano”. É uma música conhecida, claro, mas de um jeito diferente. Parece que ela tem uma vocação pra ficar associada com acontecimentos ou pessoas na nossa memória.
Eu tenho uma história com ela também, que contarei agora. Se você conhecer alguma, conte aqui também!
Quando eu estava no 2º colegial, conheci a Tarsila. Tarsila se mudou para a escola em que eu estudava no segundo ano e logo ficamos amigas. Como nós duas achávamos aquela escola fraca demais e nós duas tínhamos o objetivo de passar na Fuvest, resolvemos estudar juntas por conta própria, todas as tardes. Ela morava perto da escola, então a casa dela acabou se tornando nosso quartel-general. Eu ia para lá quase todos os dias depois da aula e assim passamos muitas tardes juntas. Como ninguém é ferro, muitas vezes a gente não estudava coisa nenhuma e gastava horas conversando sobre a vida. Provavelmente aprendi mais nessas conversas do que com as apostilas do Anglo...
Bem, na casa dela também havia um piano e Tarsila tocava muito bem. Ela era uma artista até o último fio de cabelo, impetuosa e frágil como só os verdadeiros artistas sabem ser. Sabia desenhar, escrever, cantar, tocar piano e se meter em confusão como ninguém. Numa dessas tardes, ela tocou uma música chamada Sonata ao Luar, da qual eu nunca tinha ouvido falar, mas que nunca mais esqueci. Naquela época eu não sabia nada de Beethoven. Sabia que era um desses compositores mais famosos, talvez aquele que tinha ficado surdo, mas eu não tinha muita certeza, eu sempre confundia Beethoven e Mozart. Mas o meu coração já sabia quem era Beethoven e reconheceu naquela música algo de muito especial que só começaria a se revelar anos mais tarde.
Depois disso ainda pedi para que ela tocasse a sonata muitas outras vezes. Não todos os dias, porque não é todo dia que pede Beethoven, mas sempre que sentia necessidade de retornar àquele refúgio secreto no coração, àquele lugar ainda desconhecido, mas tão familiar.
Essa é a minha lembrança com a Sonata ao Luar. Em meio ao turbilhão de sonhos e medos da adolescência, aquele oásis, aquele mundo paralelo, alheio de todas as preocupações mundanas, que a Tarsila criava quando tocava a Sonata ao Luar.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Surpresa do dia
A já mencionada Leane, a mesma da frase do dia, estarreceu-me ao revelar que o clássico Perfume de Mulher, com Al Pacino, é na verdade uma regravação de um filme italiano, Profumo di Donna, de 1974! Tudo porque esta cinéfila fora de controle reparou que um dos atores do filme Caos Calmo, Alessandro Gassman, era filho do ator principal de Profumo, Vittorio Gassman. Ah, esses meus amigos me enchem de orgulho!
Confiram:
http://www.imdb.com/title/tt0072037/
Confiram:
http://www.imdb.com/title/tt0072037/
Frase do dia
“Eu gosto de filme italiano mas eu quero pipoca!!!”
(da minha querida amiga Leane, revoltada após descobrir que o Reserva Cultural, o cultuadíssimo cinema conceito que escolhemos para ver o filme Caos Calmo, não vendia pipoca)
(da minha querida amiga Leane, revoltada após descobrir que o Reserva Cultural, o cultuadíssimo cinema conceito que escolhemos para ver o filme Caos Calmo, não vendia pipoca)
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Mais um filme. Eu não resisto...
Do jeito que vamos parece que eu sou uma deslumbrada que gosta de qualquer coisa que vê, não? Mas o fato é que eu realmente fui agraciada com ótimos filmes ultimamente.
O filme aborda de uma maneira inusitada um assunto pra lá de tenebroso. Na verdade seria incorreto afirmar que o filme “é sobre esse assunto”. O filme é algo que eu não sei definir. Uma história de amor? Um drama? Um mistério? Talvez tudo isso. Mas o fato é que “o assunto” me tirou o sono. Lembrei-me de quando eu via filmes de terror quando era criança e, pra conseguir dormir depois, eu ficava repetindo, como um mantra: “não é de verdade, não é de verdade, aquilo não existe”. O problema é que neste caso é tudo verdade, e isso dói na alma.
Anyway, esqueçam “o assunto”. O filme é delicado e intenso, para ser experimentado sem pressa. Tenho certeza que um monte de gente dirá que é muito parado, e é mesmo, mas isso faz parte da experiência. Relaxe e assista. Você verá como a história vai se infiltrar nos confins da sua memória e, mesmo muito tempo depois, você se pegará pensando nela, sem perceber.
There are very few things… silence and words.
A vida secreta das palavras, este é o filme-assunto de hoje. Outro roteiro impecável, que mostra o que tem que ser mostrado, esconde o que tem que ser escondido e insinua o que tem ser insinuado. Tudo a seu devido tempo, tudo no seu devido ritmo. Parece simples depois de pronto, mas cansei de ver filmes que erraram a mão nesse quesito. E é o tipo de coisa que, quando bem feita, passa despercebida.
O filme aborda de uma maneira inusitada um assunto pra lá de tenebroso. Na verdade seria incorreto afirmar que o filme “é sobre esse assunto”. O filme é algo que eu não sei definir. Uma história de amor? Um drama? Um mistério? Talvez tudo isso. Mas o fato é que “o assunto” me tirou o sono. Lembrei-me de quando eu via filmes de terror quando era criança e, pra conseguir dormir depois, eu ficava repetindo, como um mantra: “não é de verdade, não é de verdade, aquilo não existe”. O problema é que neste caso é tudo verdade, e isso dói na alma.
Em Ensaio Sobre a Cegueira Saramago mostra como a precariedade das condições materiais pode transformar humanos em animais. Este filme me leva a pensar que outras condições levam homens a se tornarem animais. A que profundos infernos um homem tem que descer para cometer as atrocidades de que ouvimos falar todos os dias? Quando o assunto é o holocausto, por exemplo, todo mundo se lembra de Hitler. Incontáveis livros e filmes já contaram sua história, na escola aprendemos tudo sobre ele e sempre que alguém precisa de um exemplo de pessoa má o nome que vem à mente é esse. Hitler virou um símbolo de maldade. Mas o aspecto dessa história que estranhamente eu nunca ouvi falar é: quem foram as pessoas que operacionalizaram o holocausto? O que levou aqueles homens a passarem por cima do mais rudimentar senso de moral e executarem pessoas inocentes? Quando se fala de um assassino em particular, de um torturador, pode-se até achar explicações “plausíveis”, como distúrbios mentais, ambição desmedida ou qualquer coisa assim. Mas quando centenas, por vezes milhares de homens, se juntam para cometer atrocidades, qual é a explicação?
Anyway, esqueçam “o assunto”. O filme é delicado e intenso, para ser experimentado sem pressa. Tenho certeza que um monte de gente dirá que é muito parado, e é mesmo, mas isso faz parte da experiência. Relaxe e assista. Você verá como a história vai se infiltrar nos confins da sua memória e, mesmo muito tempo depois, você se pegará pensando nela, sem perceber.
There are very few things… silence and words.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Brainstorming
Não há mais tempo. E o que você fez? Sentou com as pernas pra cima? Tocou sirene, soltou pum, deu a descarga?
Aprendeu inglês e nunca usou? Leu a tradução e não entendeu? Colocou os óculos e não enxergou? Tentou brigar e deu mau jeito nas costas?
Hoje eu não sei, mas amanhã saberei. Por ora olho a revista e escrevo neste caderno e penso em Machado de Assis. Penso em tudo que não precisava ter feito. Penso que bebi café demais. Que conversei pouco com meus pais. Que a beleza está até na bolsa florida de Parati e nas pessoas extraordinárias que ma venderam. E que valeu a pena ter estado lá e visto essas pessoas que existem de verdade e me fazem acreditar um pouco mais na humanidade.
Um sorriso perfeito é raro. E eu tenho procurado nos lugares errados. Mas aos poucos o campo de sorrisos vai florescer e encher os olhos de deus e até ele vai se surpreender com o que as suas criaturas são capazes de fazer.
("despejado" em algum dia qualquer entre Julho e Agosto de 2008)
Aprendeu inglês e nunca usou? Leu a tradução e não entendeu? Colocou os óculos e não enxergou? Tentou brigar e deu mau jeito nas costas?
Hoje eu não sei, mas amanhã saberei. Por ora olho a revista e escrevo neste caderno e penso em Machado de Assis. Penso em tudo que não precisava ter feito. Penso que bebi café demais. Que conversei pouco com meus pais. Que a beleza está até na bolsa florida de Parati e nas pessoas extraordinárias que ma venderam. E que valeu a pena ter estado lá e visto essas pessoas que existem de verdade e me fazem acreditar um pouco mais na humanidade.
Um sorriso perfeito é raro. E eu tenho procurado nos lugares errados. Mas aos poucos o campo de sorrisos vai florescer e encher os olhos de deus e até ele vai se surpreender com o que as suas criaturas são capazes de fazer.
("despejado" em algum dia qualquer entre Julho e Agosto de 2008)
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Frases para a posteridade de "Into the Wild"
São frases que eu gostaria de ter escrito? Não sei, acho que é mais do que isso. E acho que não importa. O que vale mesmo é pensar a respeito.
I think careers are a 20th century invention and I don't want one.
…rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness... give me truth.
(sobre o que os pais deveriam dar a seus filhos)
And I also know how important it is in life not necessarily to be strong but to feel strong. To measure yourself at least once. To find yourself at least once in the most ancient of human conditions. Facing the blind death stone alone, with nothing to help you but your hands and your own head.
Happiness only real when shared.
I think careers are a 20th century invention and I don't want one.
…rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness... give me truth.
(sobre o que os pais deveriam dar a seus filhos)
And I also know how important it is in life not necessarily to be strong but to feel strong. To measure yourself at least once. To find yourself at least once in the most ancient of human conditions. Facing the blind death stone alone, with nothing to help you but your hands and your own head.
Happiness only real when shared.
Cenas de uma tarde de quinta-feira
12:41. Horário de almoço nas obras da linha amarela do metrô. Sentados ao redor de uma comprida mesa de madeira, rente à rua, os operários avançam sobre suas marmitas. Numa ponta da mesa, os que já acabaram a marmita jogam dominó, muito empolgados. Ainda tem gente que joga dominó, não é incrível? Aquela foi uma das cenas mais bonitas que vi ultimamente. Tive um enorme desejo de ser um deles...
14:50. Perambulando pelas ruas do bairro acabei caindo numa viela mais residencial, tranqüila e pacata, onde alguns estudantes conversavam animadamente sentados na calçada. Passando por eles ouvi um trecho da conversa: “Barro não é cor!!!” Eles estavam jogando stop! Não é incrível? As crianças ainda jogam stop... Mas concordo com o rapaz, barro não é cor, hehehe.
17:01. Subindo a Teodoro Sampaio, distraída, me assusto com um ronco estridente ao meu lado, aquele “vrrrrruuuuuuuummmm” de carro acelerando sem sair do lugar. Olho pro lado e vejo um carro de auto-escola com uma garota apavorada ao volante. Depois de mais alguns “vruuuuns” o carro finalmente andou, meio aos trancos, o corpo dela e do instrutor sendo lançados pra frente a cada impulso. Exatamente como eu fazia quando estava aprendendo a dirigir. As pessoas ainda sofrem pra aprender a usar a embreagem, não é incrível? Não pude conter o riso, não riso de escárnio, mas riso de simpatia. O cara da loja de instrumentos em frente também riu. As pessoas ainda riem, não é incrível?
17:32. Carros de bombeiro e polícia em frente ao meu prédio. Entro normalmente, aparentemente não é nada no meu prédio. Enquanto aguardo o elevador chega uma senhora esbaforida e tagarela, carregando mais sacolas do que conseguia agüentar. Entramos no elevador, ela comenta: “Eu acho que quem tenta se suicidar é muito covarde e muito corajoso” Então era isso... “Alguém se suicidou?”, eu perguntei. “A moça no prédio em frente, está lá, na janela, mas parece que desistiu de se jogar”. As pessoas ainda tentam se matar, não é incrível? E ainda desistem.
Um dia fascinante.
14:50. Perambulando pelas ruas do bairro acabei caindo numa viela mais residencial, tranqüila e pacata, onde alguns estudantes conversavam animadamente sentados na calçada. Passando por eles ouvi um trecho da conversa: “Barro não é cor!!!” Eles estavam jogando stop! Não é incrível? As crianças ainda jogam stop... Mas concordo com o rapaz, barro não é cor, hehehe.
17:01. Subindo a Teodoro Sampaio, distraída, me assusto com um ronco estridente ao meu lado, aquele “vrrrrruuuuuuuummmm” de carro acelerando sem sair do lugar. Olho pro lado e vejo um carro de auto-escola com uma garota apavorada ao volante. Depois de mais alguns “vruuuuns” o carro finalmente andou, meio aos trancos, o corpo dela e do instrutor sendo lançados pra frente a cada impulso. Exatamente como eu fazia quando estava aprendendo a dirigir. As pessoas ainda sofrem pra aprender a usar a embreagem, não é incrível? Não pude conter o riso, não riso de escárnio, mas riso de simpatia. O cara da loja de instrumentos em frente também riu. As pessoas ainda riem, não é incrível?
17:32. Carros de bombeiro e polícia em frente ao meu prédio. Entro normalmente, aparentemente não é nada no meu prédio. Enquanto aguardo o elevador chega uma senhora esbaforida e tagarela, carregando mais sacolas do que conseguia agüentar. Entramos no elevador, ela comenta: “Eu acho que quem tenta se suicidar é muito covarde e muito corajoso” Então era isso... “Alguém se suicidou?”, eu perguntei. “A moça no prédio em frente, está lá, na janela, mas parece que desistiu de se jogar”. As pessoas ainda tentam se matar, não é incrível? E ainda desistem.
Um dia fascinante.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
To Joyce or not to Joyce
James Joyce está aqui na minha frente, acenando e sorrindo pra mim. Ele sabe que eu estou, como o jovem Stephen Dedalus, rente ao coração selvagem da vida. E por isso me chama, docemente. Eu não sei. Mergulhar neste oceano chamado James Joyce pode ser uma escolha sem volta. Talvez eu precise encontrar a minha própria Dublin. Talvez eu a encontre através dele. Talvez seja hoje. Talvez seja amanhã. Não sei e não me preocupo, pois sei que saberei quando for a hora.
sábado, 27 de setembro de 2008
Filme da vez: Na Natureza Selvagem
Aparentemente não é só para mim que este é o filme da vez, mas para um monte de gente aí fora. Pelo menos três amigos diferentes me recomendaram este filme recentemente. E para conseguir alugá-lo, tive que fazer reserva em duas locadoras e esperar mais de uma semana. O boca a boca está fazendo efeito.
Não é para menos, o filme é magnífico.
Para não perder muito tempo contando do que se trata, já que o assunto aqui é outro, copio descaradamente a sinopse do imdb:
“After graduating from Emory University, top student and athlete Christopher McCandless abandons his possessions, gives his entire $24,000 savings account to charity and hitchhikes to Alaska to live in the wilderness. Along the way, Christopher encounters a series of characters that shape his life.”
Eu poderia discorrer por vários parágrafos sobre as qualidades do filme. A esplêndida fotografia, e não daquele tipo que é apenas exibicionismo gratuito do diretor de fotografia, mas sim do tipo que é fundamental para a história; a trilha sonora perfeita feita por encomenda por Eddie Vedder (e como ele estava inspirado!); o roteiro irretocável em cada diálogo, em cada monólogo, em cada silêncio, do início ao fim; as atuações tocantes de todos os atores, desde o principal, até cada coadjuvante, mesmo os que aparecem apenas por alguns minutos na tela. Uma aula de cinema dada pelo sr. Sean Penn.
Não é coincidência. Algo está no ar. Pare e veja e sinta e ouça. O mundo está mudando e os sinais estão por todas as partes.
Não é para menos, o filme é magnífico.
Para não perder muito tempo contando do que se trata, já que o assunto aqui é outro, copio descaradamente a sinopse do imdb:
“After graduating from Emory University, top student and athlete Christopher McCandless abandons his possessions, gives his entire $24,000 savings account to charity and hitchhikes to Alaska to live in the wilderness. Along the way, Christopher encounters a series of characters that shape his life.”
Eu poderia discorrer por vários parágrafos sobre as qualidades do filme. A esplêndida fotografia, e não daquele tipo que é apenas exibicionismo gratuito do diretor de fotografia, mas sim do tipo que é fundamental para a história; a trilha sonora perfeita feita por encomenda por Eddie Vedder (e como ele estava inspirado!); o roteiro irretocável em cada diálogo, em cada monólogo, em cada silêncio, do início ao fim; as atuações tocantes de todos os atores, desde o principal, até cada coadjuvante, mesmo os que aparecem apenas por alguns minutos na tela. Uma aula de cinema dada pelo sr. Sean Penn.
Mas não é por isso que esse filme é importante. Ele é importante simplesmente por ter sido feito e por ter sido feito agora. Penso que não foi por acaso que aquele rapaz fez o que fez. Assim como não é por acaso que eu estou fazendo o que estou fazendo. Não somos aberrações, somos frutos do nosso tempo. Apesar de ainda estarmos engatinhado (todos nós) nesse planeta, estamos crescendo e aprendendo e rápido.
Não é coincidência. Algo está no ar. Pare e veja e sinta e ouça. O mundo está mudando e os sinais estão por todas as partes.
Uma palavra
Servilismo. Uma palavra e milhões de pensamentos.
Eu buscava, inconscientemente, essa palavra há muito tempo. E hoje ela me foi dada, de graça. Foi dita rapidamente, passando despercebida por quase todo mundo. Mas em mim, causou um turbilhão de pensamentos. Pensamentos que eu nem sequer sei começar a pensar.
Eu buscava, inconscientemente, essa palavra há muito tempo. E hoje ela me foi dada, de graça. Foi dita rapidamente, passando despercebida por quase todo mundo. Mas em mim, causou um turbilhão de pensamentos. Pensamentos que eu nem sequer sei começar a pensar.
Uma perspectiva cósmica
Ontem de manhã tomei café numa padaria chamada Marco Polo. Na parede havia uma simpática placa contando os feitos de Marco Polo. Segundo a placa, ele viajou à Ásia e trouxe para a Europa novidades inimagináveis na época, como a pólvora, o macarrão e a bússola. Isso foi no século XIII. Muito tempo atrás? Parei pra pensar nisso e fui divagando, divagando, até que meu cérebro, depois de abastecido com um pouco de cafeína, foi recair numa frase do livro Quando Nietszche Chorou, que dizia o seguinte: “Uma perspectiva cósmica sempre atenua a tragédia. Se subirmos bastante, atingiremos uma altura da qual a tragédia deixará de parecer tragédia.”
Perspectiva cósmica... essa expressão colou em mim desde que li o livro e nunca mais saiu. E agora retorna, quando vejo a placa sobre Marco Polo numa singela padaria. Se foi no século XIII que ele viveu, faz uns 800 anos, certo? É tanto tempo assim? Você tem certeza? Quantos anos durará a espécie humana sobre a terra? Não pude deixar de me fazer esta pergunta. Talvez um asteróide nos destrua no próximo século, talvez nós mesmos nos matemos em guerras sangrentas, talvez o aquecimento global cause uma nova era glacial e nos dizime muito antes disso. Mas talvez, e esta é uma possibilidade tão concreta quanto todas as outras, nós ainda vivamos aqui por centenas, talvez milhares de outros séculos. E é aí que entra a perspectiva cósmica! Você já parou pra imaginar que nós podemos estar na infância da espécie humana? Pare um minuto e pense nisto como um fato. Numa história de, vamos chutar, 100 mil anos, faz pouco mais de 500 anos que os humanos conhecem o planeta todo! Marco Polo foi um dos primeiros europeus a visitar a Ásia. Antes dele, e até mesmo muito depois dele, aquilo era como outro planeta para os europeus. A América, então, ficava depois do fim do mundo, onde a terra acabava e os navios caíam para fora do planeta! Os índios aqui não sabiam da existência dos europeus e vice-versa. E hoje voamos pra lá e pra cá, pro Alaska e pra Antártida, conversamos com amigos na Austrália, em Dubai, na Suíça, nos EUA e na Amazônia. Mas até outro dia, nossos antepassados nem sabiam da existência uns dos outros! Isso não faz você se sentir ridículo?? Imagine como você pensaria se fosse um humano do ano 82327, olhando pra trás, para o ano de 2008 D.C. “Uns merdinhas que mal tinham acabado de descobrir o próprio planeta... e tão, tão preocupados com as tragédias de seu tempo, e tão, tão arrogantes com as novidades do seu tempo...” O quê? Eu, com meu lindo e todo-poderoso Iphone, um primata?!! Pois é... não é muito agradável pensar em si mesmo como um homem das cavernas, não é? Mas a idéia da perspectiva cósmica pode ser também reconfortante. Olhando desse jeito, toda a crise financeira iniciada nos EUA, a guerra no Iraque, a fome na África, o crescimento da China, a corrupção no Brasil, tudo isso não parece muito pequeno? Quantos impérios nascerão e morrerão em tantos anos de história que estão por vir? Quantos povos dominarão e quantos outros serão dominados e quantas vezes esses papéis serão invertidos?
Aos poucos, porém, fui deixando de lado essa reflexão maluca e voltando à minha micro realidade, o café, o pão-de-queijo, a chuva do lado de fora, o bilhete de metrô que eu precisava comprar... Mas o riso não saiu do meu rosto pelo resto do dia. Eu tenho essa virtude, eu acho, de saber rir de mim mesma. E a idéia de que até 500 anos atrás as pessoas da minha espécie não conheciam o próprio planeta é mesmo muito engraçada!
Perspectiva cósmica... essa expressão colou em mim desde que li o livro e nunca mais saiu. E agora retorna, quando vejo a placa sobre Marco Polo numa singela padaria. Se foi no século XIII que ele viveu, faz uns 800 anos, certo? É tanto tempo assim? Você tem certeza? Quantos anos durará a espécie humana sobre a terra? Não pude deixar de me fazer esta pergunta. Talvez um asteróide nos destrua no próximo século, talvez nós mesmos nos matemos em guerras sangrentas, talvez o aquecimento global cause uma nova era glacial e nos dizime muito antes disso. Mas talvez, e esta é uma possibilidade tão concreta quanto todas as outras, nós ainda vivamos aqui por centenas, talvez milhares de outros séculos. E é aí que entra a perspectiva cósmica! Você já parou pra imaginar que nós podemos estar na infância da espécie humana? Pare um minuto e pense nisto como um fato. Numa história de, vamos chutar, 100 mil anos, faz pouco mais de 500 anos que os humanos conhecem o planeta todo! Marco Polo foi um dos primeiros europeus a visitar a Ásia. Antes dele, e até mesmo muito depois dele, aquilo era como outro planeta para os europeus. A América, então, ficava depois do fim do mundo, onde a terra acabava e os navios caíam para fora do planeta! Os índios aqui não sabiam da existência dos europeus e vice-versa. E hoje voamos pra lá e pra cá, pro Alaska e pra Antártida, conversamos com amigos na Austrália, em Dubai, na Suíça, nos EUA e na Amazônia. Mas até outro dia, nossos antepassados nem sabiam da existência uns dos outros! Isso não faz você se sentir ridículo?? Imagine como você pensaria se fosse um humano do ano 82327, olhando pra trás, para o ano de 2008 D.C. “Uns merdinhas que mal tinham acabado de descobrir o próprio planeta... e tão, tão preocupados com as tragédias de seu tempo, e tão, tão arrogantes com as novidades do seu tempo...” O quê? Eu, com meu lindo e todo-poderoso Iphone, um primata?!! Pois é... não é muito agradável pensar em si mesmo como um homem das cavernas, não é? Mas a idéia da perspectiva cósmica pode ser também reconfortante. Olhando desse jeito, toda a crise financeira iniciada nos EUA, a guerra no Iraque, a fome na África, o crescimento da China, a corrupção no Brasil, tudo isso não parece muito pequeno? Quantos impérios nascerão e morrerão em tantos anos de história que estão por vir? Quantos povos dominarão e quantos outros serão dominados e quantas vezes esses papéis serão invertidos?
Aos poucos, porém, fui deixando de lado essa reflexão maluca e voltando à minha micro realidade, o café, o pão-de-queijo, a chuva do lado de fora, o bilhete de metrô que eu precisava comprar... Mas o riso não saiu do meu rosto pelo resto do dia. Eu tenho essa virtude, eu acho, de saber rir de mim mesma. E a idéia de que até 500 anos atrás as pessoas da minha espécie não conheciam o próprio planeta é mesmo muito engraçada!
Disco da vez: In Rainbows
Desde que ouvi In Rainbows, o último CD do Radiohead, pela primeira vez, não consegui mais largá-lo. Foi amor à primeira escuta. E um amor que se modifica e se renova a cada vez que o CD dá a volta. Quase todas as canções já tiveram a sua vez como “preferida”. E cada vez que as ouço percebo novos detalhes e novas interpretações, mostrando que o processo de descoberta ainda está longe de terminar...
O CD foi lançado há quase um ano, é uma vergonha que só agora eu tenha me dado o trabalho de escutá-lo. Na época a maior surpresa foi a forma não convencional do lançamento: eles colocaram o CD à disposição para download no site e qualquer um podia baixá-lo pagando a quantia que achasse justa (sim, zero era considerado justo também!). Mais uma vez pensei comigo mesma, “esses caras são geniais”... Mas eu mesma enrolei para acessar o site, e quando fui fazê-lo, meses depois, já não estava mais disponível. Não importa, talvez eu não estivesse mesmo pronta pra ouvi-lo naquela época. E os R$29,90 que paguei agora foram mais do que justos.
Cada música tem suas próprias surpresas. A delicadeza de Nude, a batida hipnotizante e deliciosa de House of Cards, entremeada por aqueles sons fantasmagóricos (e olha que de sons fantasmagóricos eles entendem!), o jogo de palavras perfeitamente planejado e executado (“what you ought to, what you ought to...”) de Faust Arp, junto com aqueles violinos, a fúria adolescente de Jigsaws Falling Into Place (aliás, what the hell significa este título???) seguido pelo final em ritmo de marcha fúnebre, mas belo e otimista de Videotape... É um disco imperdível.
Também aumenta cada vez mais minha admiração pelo Tom Yorke como vocalista. A maneira como ele domina cada palavra que está sendo dita e acrescenta, assim, uma camada a mais à música, é para poucos. O melhor exemplo é a doçura infinita com que ele canta os versos nada doces de Faust Arp (“I’m stuffed, stuffed, stuffed...” ).
Eu não me atreveria a interpretar as letras, mas algumas frases são inspiradas demais pra passar despercebidas. Dentro ou fora de contexto, são daquele tipo que fazem você sentir que sabe exatamente do que o cara está falando:
De Weird Fish/Arpeggi:
“Everybody leaves
If they get the chance
And this is my chance”
De All I need:
“I am all the days that you choose to ignore”
A minha preferida, de Nude:
"Now that you’ve found it, it’s gone
Now that you feel it, you don’t "
E o contraponto entre o primeiro e o último verso do CD:
“How come I end up where I started
How come I end up where I went wrong”
“I won't be afraid
Because I know today has been
The most perfect day I've ever seen”
Não dá pra dizer que foi proposital. Mas mesmo que tenha sido mera coincidência, só vem mostrar que quem é bom, faz coisa boa até sem querer.
Eu não esperava menos do Radiohead, é claro. Engraçado que eu os venero tanto que quando alguém me pergunta que tipo de música eu gosto de ouvir dificilmente eu menciono o Radiohead. Não sei, eu sinto como se incluí-los no rol comum das bandas que eu gosto fosse quase um desrespeito. Mais de uma vez, numa dessas conversas com pessoas que você está ainda conhecendo, já me peguei “censurando” o Radiohead e pensando “não, acho que ainda não confio o suficiente nessa pessoa para que ela mereça saber sobre isso”. Certos tesouros a gente só pode entregar depois de muita confiança. Minha relação com o Radiohead é um deles.
O CD foi lançado há quase um ano, é uma vergonha que só agora eu tenha me dado o trabalho de escutá-lo. Na época a maior surpresa foi a forma não convencional do lançamento: eles colocaram o CD à disposição para download no site e qualquer um podia baixá-lo pagando a quantia que achasse justa (sim, zero era considerado justo também!). Mais uma vez pensei comigo mesma, “esses caras são geniais”... Mas eu mesma enrolei para acessar o site, e quando fui fazê-lo, meses depois, já não estava mais disponível. Não importa, talvez eu não estivesse mesmo pronta pra ouvi-lo naquela época. E os R$29,90 que paguei agora foram mais do que justos.
Cada música tem suas próprias surpresas. A delicadeza de Nude, a batida hipnotizante e deliciosa de House of Cards, entremeada por aqueles sons fantasmagóricos (e olha que de sons fantasmagóricos eles entendem!), o jogo de palavras perfeitamente planejado e executado (“what you ought to, what you ought to...”) de Faust Arp, junto com aqueles violinos, a fúria adolescente de Jigsaws Falling Into Place (aliás, what the hell significa este título???) seguido pelo final em ritmo de marcha fúnebre, mas belo e otimista de Videotape... É um disco imperdível.
Também aumenta cada vez mais minha admiração pelo Tom Yorke como vocalista. A maneira como ele domina cada palavra que está sendo dita e acrescenta, assim, uma camada a mais à música, é para poucos. O melhor exemplo é a doçura infinita com que ele canta os versos nada doces de Faust Arp (“I’m stuffed, stuffed, stuffed...” ).
Eu não me atreveria a interpretar as letras, mas algumas frases são inspiradas demais pra passar despercebidas. Dentro ou fora de contexto, são daquele tipo que fazem você sentir que sabe exatamente do que o cara está falando:
De Weird Fish/Arpeggi:
“Everybody leaves
If they get the chance
And this is my chance”
De All I need:
“I am all the days that you choose to ignore”
A minha preferida, de Nude:
"Now that you’ve found it, it’s gone
Now that you feel it, you don’t "
E o contraponto entre o primeiro e o último verso do CD:
“How come I end up where I started
How come I end up where I went wrong”
Contra:
“I won't be afraid
Because I know today has been
The most perfect day I've ever seen”
Não dá pra dizer que foi proposital. Mas mesmo que tenha sido mera coincidência, só vem mostrar que quem é bom, faz coisa boa até sem querer.
Eu não esperava menos do Radiohead, é claro. Engraçado que eu os venero tanto que quando alguém me pergunta que tipo de música eu gosto de ouvir dificilmente eu menciono o Radiohead. Não sei, eu sinto como se incluí-los no rol comum das bandas que eu gosto fosse quase um desrespeito. Mais de uma vez, numa dessas conversas com pessoas que você está ainda conhecendo, já me peguei “censurando” o Radiohead e pensando “não, acho que ainda não confio o suficiente nessa pessoa para que ela mereça saber sobre isso”. Certos tesouros a gente só pode entregar depois de muita confiança. Minha relação com o Radiohead é um deles.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Espírito do momento *
Se eu tenho a Clarice Lispector como porta-voz, será que preciso dizer mais alguma coisa?
Trecho da crônica “Noveleta”, de 24 de janeiro de 1970:
“Suponho que, arbitrariamente contrariando o sentido real da história, eu de algum modo já me prometia por escrito que o ócio, mais que o trabalho, me daria as grandes recompensas gratuitas, as únicas a que eu aspirava. É possível também que já então meu tema de vida fosse a irrazoável esperança, e que eu já tivesse iniciado a minha grande obstinação: eu daria tudo o que era meu por nada. Ao contrário do trabalhador da história, na composição eu sacudia dos ombros todos os deveres e dela saía livre e pobre, e com um tesouro na mão.”
* ou será que este sempre foi o espírito??
Trecho da crônica “Noveleta”, de 24 de janeiro de 1970:
“Suponho que, arbitrariamente contrariando o sentido real da história, eu de algum modo já me prometia por escrito que o ócio, mais que o trabalho, me daria as grandes recompensas gratuitas, as únicas a que eu aspirava. É possível também que já então meu tema de vida fosse a irrazoável esperança, e que eu já tivesse iniciado a minha grande obstinação: eu daria tudo o que era meu por nada. Ao contrário do trabalhador da história, na composição eu sacudia dos ombros todos os deveres e dela saía livre e pobre, e com um tesouro na mão.”
* ou será que este sempre foi o espírito??
Tese sobre e Abraão e Isaac
Somente quando se está disposto a abandonar tudo o que foi conquistado, é que o ciclo se fecha.
Assim se explica, finalmente, a sombria e inquietante estória de Abraão e Isaac.
Abraão era um homem temente a deus que queria muito ter um filho, mas sua esposa Sara era estéril. Quando ele já estava bem velhinho, deus resolve operar um milagre e Sara engravida. Ela dá à luz Isaac, realizando assim o sonho do velho homem. Quando Isaac já é um adulto, Deus resolve testar a fé de Abraão e pede-lhe que ofereça seu filho em sacrifício. Abraão, como era temente a deus, resolve obedecer, e prepara tudo para a morte de seu filho. Na última hora, porém, desce um anjo dos céus e diz “pára tudo, pára tudo, deus já entendeu que você tem fé!” E deus recompensa abundantemente a fé incondicional de Abraão.
Era só uma metáfora!
Entendeu?
Atingir os objetivos é apenas metade do caminho. A vitória só é completa quando se aprende a renunciar ao objetivo tão duramente conquistado, por amor.
Assim se explica, finalmente, a sombria e inquietante estória de Abraão e Isaac.
Abraão era um homem temente a deus que queria muito ter um filho, mas sua esposa Sara era estéril. Quando ele já estava bem velhinho, deus resolve operar um milagre e Sara engravida. Ela dá à luz Isaac, realizando assim o sonho do velho homem. Quando Isaac já é um adulto, Deus resolve testar a fé de Abraão e pede-lhe que ofereça seu filho em sacrifício. Abraão, como era temente a deus, resolve obedecer, e prepara tudo para a morte de seu filho. Na última hora, porém, desce um anjo dos céus e diz “pára tudo, pára tudo, deus já entendeu que você tem fé!” E deus recompensa abundantemente a fé incondicional de Abraão.
Era só uma metáfora!
Entendeu?
Atingir os objetivos é apenas metade do caminho. A vitória só é completa quando se aprende a renunciar ao objetivo tão duramente conquistado, por amor.
domingo, 21 de setembro de 2008
Ensaio sobre a Cegueira, uma única queixa
Fiquei na dúvida se valeria a pena fazer uma crítica técnica ao filme. A força da mensagem é tão grande que parece mesquinharia reparar em detalhes técnicos. Acabei optando por fazer este comentário, mas num post separado.
É o seguinte: como é que o Fernando Meirelles perdeu a oportunidade de colocar uma trilha sonora arrebatadora nesse filme??? Justamente no campo em que o cinema ganha terreno com relação à literatura, eles jogaram pra perder?? Não compreendo.
Achei a trilha sonora fraquíssima, com uma carga emocional muito aquém da requerida pelas imagens correspondentes e, em alguns casos, até descasada com o clima.
Uma decepção.
Entendo que exista um grau dificuldade maior em encontrar canções com carga emocional à altura das situações criadas pelo Saramago, mas, como amante da música que sou, fã de malucos como Beethoven e Radiohead, garanto que essas músicas existem.
É o seguinte: como é que o Fernando Meirelles perdeu a oportunidade de colocar uma trilha sonora arrebatadora nesse filme??? Justamente no campo em que o cinema ganha terreno com relação à literatura, eles jogaram pra perder?? Não compreendo.
Achei a trilha sonora fraquíssima, com uma carga emocional muito aquém da requerida pelas imagens correspondentes e, em alguns casos, até descasada com o clima.
Uma decepção.
Entendo que exista um grau dificuldade maior em encontrar canções com carga emocional à altura das situações criadas pelo Saramago, mas, como amante da música que sou, fã de malucos como Beethoven e Radiohead, garanto que essas músicas existem.
Ensaio sobre a Cegueira, o filme
A melhor coisa no filme Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles, é relembrar o livro Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago.
Obviamente o livro é melhor, mas isso não é demérito, afinal seria impossível ser diferente. Assim como Einstein provou que nada no universo pode se mover com velocidade maior que a da luz, um dia alguém também provará que é impossível um filme ser melhor que o livro correspondente. São as leis do universo.
Algumas situações do livro, por exemplo, foram cortadas. É compreensível. Mesmo com essa redução, a narrativa já ficou um pouco corrida. Você mal acaba de digerir uma cena e logo em seguida já vem outra, de maior impacto, numa velocidade que acaba comprometendo seu envolvimento com o absurdo crescente dos acontecimentos. Mas nada que comprometa a mensagem, tudo que era importante estava lá.
O real mérito do filme, a meu ver, é ser extremamente fiel ao livro, muito mais do que se costuma ver em adaptações semelhantes. Impressionante, por exemplo, como o sanatório era igualzinho ao que eu tinha imaginado. Será que todo mundo imaginou do mesmo jeito??
Justamente por isso, o maior prazer que tive ao ver o filme foi o de apreciar mais uma vez a genialidade do Saramago. À parte todas as limitações que o formato de filme impõe, foi maravilhoso reviver situações que eu já havia esquecido desde a época em que li o livro. Os santos com os olhos cobertos de branco nas igrejas, as mulheres voltando do estupro e lavando, como numa cerimônia religiosa, a que tinha sido morta na selvageria, as mulheres tomando banho na varanda e redescobrindo a própria dignidade... A pessoa que imaginou essas cenas enxerga tão fundo na alma humana que eu duvido que ela mesma tenha noção do significado profundamente revelador que isso tem para nós. Esse tipo de auto-consciência eleva a espécie humana a outro patamar. Saí do cinema feliz por viver na mesma época e no mesmo mundo que o Saramago. Saí feliz até mesmo por pertencer à mesma espécie que ele.
E só pra matar a saudade do gênio, um trechinho que resume brilhantemente a moral da estória:
“(…) mas quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos.”
Obviamente o livro é melhor, mas isso não é demérito, afinal seria impossível ser diferente. Assim como Einstein provou que nada no universo pode se mover com velocidade maior que a da luz, um dia alguém também provará que é impossível um filme ser melhor que o livro correspondente. São as leis do universo.
Algumas situações do livro, por exemplo, foram cortadas. É compreensível. Mesmo com essa redução, a narrativa já ficou um pouco corrida. Você mal acaba de digerir uma cena e logo em seguida já vem outra, de maior impacto, numa velocidade que acaba comprometendo seu envolvimento com o absurdo crescente dos acontecimentos. Mas nada que comprometa a mensagem, tudo que era importante estava lá.
O real mérito do filme, a meu ver, é ser extremamente fiel ao livro, muito mais do que se costuma ver em adaptações semelhantes. Impressionante, por exemplo, como o sanatório era igualzinho ao que eu tinha imaginado. Será que todo mundo imaginou do mesmo jeito??
Justamente por isso, o maior prazer que tive ao ver o filme foi o de apreciar mais uma vez a genialidade do Saramago. À parte todas as limitações que o formato de filme impõe, foi maravilhoso reviver situações que eu já havia esquecido desde a época em que li o livro. Os santos com os olhos cobertos de branco nas igrejas, as mulheres voltando do estupro e lavando, como numa cerimônia religiosa, a que tinha sido morta na selvageria, as mulheres tomando banho na varanda e redescobrindo a própria dignidade... A pessoa que imaginou essas cenas enxerga tão fundo na alma humana que eu duvido que ela mesma tenha noção do significado profundamente revelador que isso tem para nós. Esse tipo de auto-consciência eleva a espécie humana a outro patamar. Saí do cinema feliz por viver na mesma época e no mesmo mundo que o Saramago. Saí feliz até mesmo por pertencer à mesma espécie que ele.
E só pra matar a saudade do gênio, um trechinho que resume brilhantemente a moral da estória:
“(…) mas quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos.”
domingo, 7 de setembro de 2008
“O Procurado”: um conto de fadas moderno
Vi hoje no cinema “O Procurado”, com Angelina Jolie e Morgan Freeman.
Escolhi este filme ludibriada por mim mesma. Não sei por que eu tinha certeza de que se tratava de outro filme e por isso nem me preocupei em ler a sinopse. Se tivesse lido, com certeza não teria ido. O filme todo é uma grande bobagem. E não é que eu não goste de ver uma bobagem de vez em quando, mas é preciso estar no espírito.
Não haviam se passado ainda 10 minutos de filme e eu já tinha a classificação perfeita para ele: conto de fadas moderno. Um sujeito totalmente insignificante leva uma vida miserável num emprego mortalmente entediante e se pergunta todos os dias se é possível que sua vida seja realmente tão patética e que ele realmente não se importe com isso. Até que um dia aparece ninguém mais ninguém menos que Angelina Jolie dizendo-lhe que não, ele não era insignificante! Ele era, na verdade, um homem com habilidades especialíssimas destinado a salvar a humanidade.
Ao invés de princesas subjugadas por madrastas malvadas ou amaldiçoadas por feiticeiras invejosas, a heroína aqui é o trabalhador insípido, humilhado todos os dias por uma chefe mais assustadora que qualquer bruxa já inventada pela literatura. E o príncipe encantado é a musa dos sonhos de dez entre dez homens atualmente, Angelina Jolie, que o resgata desse pesadelo da insignificância cavalgando uma BMW vermelha. O mote é o mesmo de incontáveis outros filmes e seriados. “Heroes”, por exemplo, é construído quase que exclusivamente sobre esse tema da necessidade incurável que temos de ser especiais, e extrai daí boa parte de sua empatia com o público.
Nada contra contos de fadas. Mas a má notícia é: se sua vida parece patética e insignificante, provavelmente ela é mesmo. E a Angelina Jolie e o Brad Pitt não vão aparecer pra te salvar.
Pelo menos no finalzinho o filme aparentemente “reajusta a mensagem” e se redime um pouco. Depois que tudo desmorona – inclusive a Angelina Jolie – o personagem central se vira para o público e diz algo do tipo: “Eu assumi o controle da minha vida. E você, está fazendo o que?”
Outra grande bobagem, esta não tão inofensiva, é a tal da Fraternidade. A idéia de que alguns seres humanos são “especiais” e por isso têm “licença para matar”, em nome de um ideal maior ou em nome do que quer que seja, já causou muita estupidez nesse mundo. A trajetória desesperadora de Raskolnikov em Crime e Castigo, por exemplo, mostra brilhantemente a falácia deste raciocínio. Se obras-primas já foram escritas a esse respeito, acho impressionante – e perigoso – que algumas pessoas ainda se deixem seduzir por essa idéia. E que elas tenham dinheiro para divulgá-la em superproduções holywoodianas que são vistas no mundo inteiro. Não quero inventar teorias da conspiração, o filme não é panfletário, é entretenimento e nada mais. Mas é preciso estar atento, pois às vezes é da maneira mais inocente que se insinuam as idéias mais perversas.
Escolhi este filme ludibriada por mim mesma. Não sei por que eu tinha certeza de que se tratava de outro filme e por isso nem me preocupei em ler a sinopse. Se tivesse lido, com certeza não teria ido. O filme todo é uma grande bobagem. E não é que eu não goste de ver uma bobagem de vez em quando, mas é preciso estar no espírito.
Não haviam se passado ainda 10 minutos de filme e eu já tinha a classificação perfeita para ele: conto de fadas moderno. Um sujeito totalmente insignificante leva uma vida miserável num emprego mortalmente entediante e se pergunta todos os dias se é possível que sua vida seja realmente tão patética e que ele realmente não se importe com isso. Até que um dia aparece ninguém mais ninguém menos que Angelina Jolie dizendo-lhe que não, ele não era insignificante! Ele era, na verdade, um homem com habilidades especialíssimas destinado a salvar a humanidade.
Ao invés de princesas subjugadas por madrastas malvadas ou amaldiçoadas por feiticeiras invejosas, a heroína aqui é o trabalhador insípido, humilhado todos os dias por uma chefe mais assustadora que qualquer bruxa já inventada pela literatura. E o príncipe encantado é a musa dos sonhos de dez entre dez homens atualmente, Angelina Jolie, que o resgata desse pesadelo da insignificância cavalgando uma BMW vermelha. O mote é o mesmo de incontáveis outros filmes e seriados. “Heroes”, por exemplo, é construído quase que exclusivamente sobre esse tema da necessidade incurável que temos de ser especiais, e extrai daí boa parte de sua empatia com o público.
Nada contra contos de fadas. Mas a má notícia é: se sua vida parece patética e insignificante, provavelmente ela é mesmo. E a Angelina Jolie e o Brad Pitt não vão aparecer pra te salvar.
Pelo menos no finalzinho o filme aparentemente “reajusta a mensagem” e se redime um pouco. Depois que tudo desmorona – inclusive a Angelina Jolie – o personagem central se vira para o público e diz algo do tipo: “Eu assumi o controle da minha vida. E você, está fazendo o que?”
Outra grande bobagem, esta não tão inofensiva, é a tal da Fraternidade. A idéia de que alguns seres humanos são “especiais” e por isso têm “licença para matar”, em nome de um ideal maior ou em nome do que quer que seja, já causou muita estupidez nesse mundo. A trajetória desesperadora de Raskolnikov em Crime e Castigo, por exemplo, mostra brilhantemente a falácia deste raciocínio. Se obras-primas já foram escritas a esse respeito, acho impressionante – e perigoso – que algumas pessoas ainda se deixem seduzir por essa idéia. E que elas tenham dinheiro para divulgá-la em superproduções holywoodianas que são vistas no mundo inteiro. Não quero inventar teorias da conspiração, o filme não é panfletário, é entretenimento e nada mais. Mas é preciso estar atento, pois às vezes é da maneira mais inocente que se insinuam as idéias mais perversas.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
sábado, 30 de agosto de 2008
Sobre a escolha do título
Os milhares de fãs deste jovem e já barulhento Blog escrevem aos borbotões me perguntando de onde saiu este título tão genial, Mecenas em Treinamento. Devo-lhes uma explicação!
O problema todo começou quando me dei um ultimato para publicar o Blog. Os textos já escritos se acumulavam em arquivos cada vez mais desorganizados e as idéias para textos novos não paravam de surgir. Coloquei como limite, então, a data de 16 de agosto, um sábado. Apenas uns poucos dias antes me dei conta de que precisaria escolher um título. Naquele instante eu soube que essa seria a parte mais difícil de todo o processo. Naquela fração de segundo eu tive certeza de que gastaria horas pensando num título e no fim acabaria fazendo uma escolha estúpida. Por isso mesmo nem pensei no assunto nos dias que se seguiram. Pelo menos essa sabedoria eu tive, de reconhecer que era inútil gastar minhas energias com isso e assim desfrutar uns momentos a mais de paz antes de iniciar o trabalho. Ainda preciso praticar mais essa técnica.
Enfim chegou o sábado e eu sentei para escolher o tal do título. Neste momento faltaram forças para aplicar outra técnica, a de confiar nos instintos. O que eu deveria ter feito era escolher o primeiro título que me viesse à mente, fosse ele qual fosse. Ao invés disso, caí mais uma vez na armadilha de achar que alguns momentos de reflexão poderiam levar a uma solução melhor. Os momentos viraram minutos, que viraram horas e quando me dei conta já estava cansada, de saco cheio e disposta a escolher qualquer coisa só para me livrar daquela parte e terminar logo o que faltava, que era todo o resto. Venceu, então, o título que estava em avaliação naquele instante, não porque fosse melhor ou pior que outros que eu havia cogitado antes, mas simplesmente porque era o título que eu tinha em mãos no momento em que a paciência acabou. Só poderia dar no que deu: uma porcaria.
Descobri depois que é possível alterar o título, mas não o farei. Arcarei bravamente com as conseqüências da minha burra teimosia.
Com o tempo talvez eu até passe simpatizar com o título...
O problema todo começou quando me dei um ultimato para publicar o Blog. Os textos já escritos se acumulavam em arquivos cada vez mais desorganizados e as idéias para textos novos não paravam de surgir. Coloquei como limite, então, a data de 16 de agosto, um sábado. Apenas uns poucos dias antes me dei conta de que precisaria escolher um título. Naquele instante eu soube que essa seria a parte mais difícil de todo o processo. Naquela fração de segundo eu tive certeza de que gastaria horas pensando num título e no fim acabaria fazendo uma escolha estúpida. Por isso mesmo nem pensei no assunto nos dias que se seguiram. Pelo menos essa sabedoria eu tive, de reconhecer que era inútil gastar minhas energias com isso e assim desfrutar uns momentos a mais de paz antes de iniciar o trabalho. Ainda preciso praticar mais essa técnica.
Enfim chegou o sábado e eu sentei para escolher o tal do título. Neste momento faltaram forças para aplicar outra técnica, a de confiar nos instintos. O que eu deveria ter feito era escolher o primeiro título que me viesse à mente, fosse ele qual fosse. Ao invés disso, caí mais uma vez na armadilha de achar que alguns momentos de reflexão poderiam levar a uma solução melhor. Os momentos viraram minutos, que viraram horas e quando me dei conta já estava cansada, de saco cheio e disposta a escolher qualquer coisa só para me livrar daquela parte e terminar logo o que faltava, que era todo o resto. Venceu, então, o título que estava em avaliação naquele instante, não porque fosse melhor ou pior que outros que eu havia cogitado antes, mas simplesmente porque era o título que eu tinha em mãos no momento em que a paciência acabou. Só poderia dar no que deu: uma porcaria.
Descobri depois que é possível alterar o título, mas não o farei. Arcarei bravamente com as conseqüências da minha burra teimosia.
Com o tempo talvez eu até passe simpatizar com o título...
Títulos que não viraram posts
Tenho mania (vejam só, faz pouco mais de uma semana que comecei o Blog e já me sinto no direito de ter manias!) de pensar em títulos para novos posts. Na verdade eu nem posso dizer que penso. Eles me vêm à mente sem que eu me dê conta, e vêm aos montes.
Tento anotá-los, na medida do possível, na esperança de que um dia todos virem texto. Sei que a maioria não chegará a tanto, talvez por falta de tempo, talvez por falta de algo mais. Mas escrevê-los me lembra de que eu tinha algo a dizer, escondido lá no fundo. Quem sabe quando eu aprender a técnica da humildade com a Clarice eu consiga deixar vir à tona esse mundo submerso que por ora é apenas título.
Alguns deles:
- O absurdo da vida moderna
- A coragem de trabalhar menos
- A beleza de ser imperfeito
- Auto-dialética
- Entre o inferno e o Cambodja
- Saudades de Phoenix
- Pergunta para a Clarice
- Sobre o que não foi dito
- Casas com aura
- Eu hoje imaginei tanta coisa
- Gente que pode
Frases para a vida
As inspirações para guiar nossa vida vêm dos lugares mais inusitados.
Quem diria que eu um dia eu invocaria Gloria Gaynor em momentos difíceis?
“First I was afraid”
(Jones, obrigada por mais uma vez me apontar a luz!)
Quem diria que eu um dia eu invocaria Gloria Gaynor em momentos difíceis?
“First I was afraid”
(Jones, obrigada por mais uma vez me apontar a luz!)
Uma definição de felicidade
Cantar Hey Jude num karaokê e levar os amigos à loucura gritando “naaaa nana nanananaaa nanananaaa” por 15 minutos, como se não houvesse amanhã e completamente desafinada.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Grand Tour Europa: vambora?!!
Para quem viajou, viajará, sonha em viajar, para os curiosos, para quem quer matar tempo no trabalho ou até mesmo para usar nas aulas de inglês, segue um blog muito legal que andei lendo:
http://frugaltraveler.blogs.nytimes.com/
Pelo que entendi, essa cara é um jornalista do New York Times que faz uma viagem budget por ano e reporta tudo nesse blog. Seguem alguns excertos que explicam mais ou menos a idéia do blog e a viagem desse ano (Grand Tour Europa!):
"Why Europe? Why retrace a route established centuries ago and since beaten into the dirt by countless millions of tourists? Why write about the most written-about countries in the world? Why spend money in the most consistently expensive region of the planet? For one thing, with the dollar in a long decline against the euro, frugal travel tips for Europe are needed more now than ever. I plan to show that just because your vacation budget is suddenly that of a backpacker, you needn't forgo a reasonable level of comfort.
(…)
But just as vitally, I want to discover Europe anew. We may think we know a place from constant exposure, but Europe now is not what Europe once was. Borders are dissolving, people migrating, languages overlapping, and I aim to bear witness, not just to new cultural phenomena but also to the beloved customs and institutions that persist. I will go beyond the path of the original Grand Tourists, who generally stuck to France and Italy, and cross into some of the European Union's newest members — Romania, Lithuania and Poland — as well as the perennial question mark that is Turkey, or rather, the Turkish side of Cyprus. Along the way, I'll be stretching the dollar as far as I can. The past two summers, as I circled the globe and drove across the United States, I stuck to a budget of roughly $100 a day for food, lodging, travel and entertainment. This year, unfortunately, I must make a concession to circumstances and raise my ceiling to 100 euros — about $156, at $1.56 to the euro. But before my dear readers start declaring that I'm out of my not-so-frugal mind, remember this: That startling figure is a maximum, a theoretical limit to be avoided even as I pursue a measure of luxury. (The Frugal Traveler is not a backpacker.) For the most part, and especially after I leave France and Italy behind, I plan to stay well under that amount."
Dentre algumas dicas pra lá de interessantes desse Blog, algumas só pra despertar o apetite:
- aluguel de apartamento para turistas em Paris: pra que pagar fortunas em hotéis e albergues xexelentos quando se pode alugar uma casa por 1 ou 2 semanas, sem burocracia nenhuma???;
- Couch Surfers (http://www.couchsurfing.com/): esticando o conceito budget ao máximo, pra que alugar um apartamento se você pode dormir no apartamento de alguém de graça???
http://frugaltraveler.blogs.nytimes.com/
Pelo que entendi, essa cara é um jornalista do New York Times que faz uma viagem budget por ano e reporta tudo nesse blog. Seguem alguns excertos que explicam mais ou menos a idéia do blog e a viagem desse ano (Grand Tour Europa!):
"Why Europe? Why retrace a route established centuries ago and since beaten into the dirt by countless millions of tourists? Why write about the most written-about countries in the world? Why spend money in the most consistently expensive region of the planet? For one thing, with the dollar in a long decline against the euro, frugal travel tips for Europe are needed more now than ever. I plan to show that just because your vacation budget is suddenly that of a backpacker, you needn't forgo a reasonable level of comfort.
(…)
But just as vitally, I want to discover Europe anew. We may think we know a place from constant exposure, but Europe now is not what Europe once was. Borders are dissolving, people migrating, languages overlapping, and I aim to bear witness, not just to new cultural phenomena but also to the beloved customs and institutions that persist. I will go beyond the path of the original Grand Tourists, who generally stuck to France and Italy, and cross into some of the European Union's newest members — Romania, Lithuania and Poland — as well as the perennial question mark that is Turkey, or rather, the Turkish side of Cyprus. Along the way, I'll be stretching the dollar as far as I can. The past two summers, as I circled the globe and drove across the United States, I stuck to a budget of roughly $100 a day for food, lodging, travel and entertainment. This year, unfortunately, I must make a concession to circumstances and raise my ceiling to 100 euros — about $156, at $1.56 to the euro. But before my dear readers start declaring that I'm out of my not-so-frugal mind, remember this: That startling figure is a maximum, a theoretical limit to be avoided even as I pursue a measure of luxury. (The Frugal Traveler is not a backpacker.) For the most part, and especially after I leave France and Italy behind, I plan to stay well under that amount."
- aluguel de apartamento para turistas em Paris: pra que pagar fortunas em hotéis e albergues xexelentos quando se pode alugar uma casa por 1 ou 2 semanas, sem burocracia nenhuma???;
- Couch Surfers (http://www.couchsurfing.com/): esticando o conceito budget ao máximo, pra que alugar um apartamento se você pode dormir no apartamento de alguém de graça???
- WWOOF (http://www.wwoof.org/): e agora ultrapassando o conceito de turista, pra que fazer turismo se você pode plantar batatas? Curioso? Dê uma olhada neste site, hehe.
Minha experiência no Restaurant Week
Acho difícil alguém não ter ouvido falar, mas não custa nada explicar um pouquinho.
Acontece agora de 18 a 31 de agosto em São Paulo o Restaurant Week, uma semana em que alguns dos principais restaurantes da cidade oferecem um menu especial composto de entrada, prato principal e sobremesa a um preço fixo (e normalmente menor que os preços tradicionais da casa).
Algumas notas do próprio site (http://www.restaurantweek.com.br/):
“O Restaurant Week surgiu há 16 anos em Nova York, para ser parceiro do Fashion Week e aumentar o volume de vendas na “Slow Season” época de férias em Julho. "
“O Restaurant Week é, comprovadamente, um indutor do turismo, atraindo novos clientes para os restaurantes participantes, entre eles muitas pessoas de cidades próximas, alem de atender o principal objetivo da Responsabilidade Social, arrecadando doações de R$ 1,00 a R$ 2,00 por couvert consumido. É uma ótima oportunidade para a captação de novos negócios e, principalmente, para manter e reforçar a clientela dos restaurantes envolvidos no evento.”
Na última edição em São Paulo, que ocorreu esse ano também, eu aproveitei pra conhecer alguns restaurantes novos e achei a idéia muito bacana.
Desta vez fui animada de novo pra conhecer mais alguns. No último sábado fui almoçar na Casa Europa, nos Jardins. Restaurante moderninho, bonito, gostoso. Bom atendimento, comida elaborada e saborosa. Só encontrei um defeito, que ainda não consegui digerir: o prato era pequeno. E quando digo pequeno, era pequeno mesmo, insignificante, minúsculo, frugal, mesquinho! Quase não acreditei quando vi aquele filezinho de peixe na minha frente, acompanhado de uma “moitinha” de alcachofras, mais enfeite do que comida. Tá certo, eu não estava num “PF”, os restaurantes mais sofisticados normalmente servem pratos menores, mesmo, é o conceito e tal. Mas aquele peixe era ultrajante! É uma pena um restaurante com tantas qualidades derrapar num quesito tão básico. O objetivo fundamental de um restaurante é alimentar. Falhar nesse quesito coloca em xeque todo o resto.
Acontece agora de 18 a 31 de agosto em São Paulo o Restaurant Week, uma semana em que alguns dos principais restaurantes da cidade oferecem um menu especial composto de entrada, prato principal e sobremesa a um preço fixo (e normalmente menor que os preços tradicionais da casa).
Algumas notas do próprio site (http://www.restaurantweek.com.br/):
“O Restaurant Week surgiu há 16 anos em Nova York, para ser parceiro do Fashion Week e aumentar o volume de vendas na “Slow Season” época de férias em Julho. "
“O Restaurant Week é, comprovadamente, um indutor do turismo, atraindo novos clientes para os restaurantes participantes, entre eles muitas pessoas de cidades próximas, alem de atender o principal objetivo da Responsabilidade Social, arrecadando doações de R$ 1,00 a R$ 2,00 por couvert consumido. É uma ótima oportunidade para a captação de novos negócios e, principalmente, para manter e reforçar a clientela dos restaurantes envolvidos no evento.”
Na última edição em São Paulo, que ocorreu esse ano também, eu aproveitei pra conhecer alguns restaurantes novos e achei a idéia muito bacana.
Desta vez fui animada de novo pra conhecer mais alguns. No último sábado fui almoçar na Casa Europa, nos Jardins. Restaurante moderninho, bonito, gostoso. Bom atendimento, comida elaborada e saborosa. Só encontrei um defeito, que ainda não consegui digerir: o prato era pequeno. E quando digo pequeno, era pequeno mesmo, insignificante, minúsculo, frugal, mesquinho! Quase não acreditei quando vi aquele filezinho de peixe na minha frente, acompanhado de uma “moitinha” de alcachofras, mais enfeite do que comida. Tá certo, eu não estava num “PF”, os restaurantes mais sofisticados normalmente servem pratos menores, mesmo, é o conceito e tal. Mas aquele peixe era ultrajante! É uma pena um restaurante com tantas qualidades derrapar num quesito tão básico. O objetivo fundamental de um restaurante é alimentar. Falhar nesse quesito coloca em xeque todo o resto.
E para descrever o meu choque, nada melhor que uma boa imagem. Esta foto foi tirada em outra ocasião, muito tempo atrás, mas a decepção gastronômica era a mesma!
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Esse mundo é muito injusto (que novidade...)
Mais uma prova disso foi dada hoje, com a derrota do futebol feminino para as americanas. De novo, meu deus, de novo! E para os Estados Unidos! Como se eles já não tivessem medalhas o suficiente, vieram tirar a nossa, justo essa, justo essa tão merecida...
Com o futebol masculino é diferente, todo mundo já tem uma certa birra deles, “pelo menos serviu pra queimar o Dunga”, alguns dizem, “esses caras não estão nem aí pras Olimpíadas”, outros comentam. A gente até enche a boca pra dizer “bem-feito” depois daquele vexame contra a Argentina.
Mas as meninas... as meninas são diferentes. Aquela era a chance da vida delas. Elas não têm os campeonatos nacionais esperando-as de volta, os times milionários negociando seus passes, as torcidas ensandecidas gritando seus nomes. A Olimpíada seria o auge. E, mais que isso, seria a revanche contra os Estados Unidos. Seria a prova de que nós também podemos chegar lá, que nós também temos estrela. Seria a coroação merecida de uma carreira de muito suor e pouco reconhecimento. Seria uma faxina na alma.
Alguém poderia até argumentar que elas ficaram nervosas na final, que não jogaram o futebol que sabem jogar, que sucumbiram diante da pressão, mas nem isso, nem isso dá pra dizer! Elas jogaram um bolão, foram superiores o tempo todo. Parece que até a meritocracia só vale para os ricos neste mundo...
É injusto, é injusto no limite do incompreensível.
A frase do dia hoje só poderia ser uma:
“Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem.”
(Evangelho de São Mateus 13, 12)
Com o futebol masculino é diferente, todo mundo já tem uma certa birra deles, “pelo menos serviu pra queimar o Dunga”, alguns dizem, “esses caras não estão nem aí pras Olimpíadas”, outros comentam. A gente até enche a boca pra dizer “bem-feito” depois daquele vexame contra a Argentina.
Mas as meninas... as meninas são diferentes. Aquela era a chance da vida delas. Elas não têm os campeonatos nacionais esperando-as de volta, os times milionários negociando seus passes, as torcidas ensandecidas gritando seus nomes. A Olimpíada seria o auge. E, mais que isso, seria a revanche contra os Estados Unidos. Seria a prova de que nós também podemos chegar lá, que nós também temos estrela. Seria a coroação merecida de uma carreira de muito suor e pouco reconhecimento. Seria uma faxina na alma.
Alguém poderia até argumentar que elas ficaram nervosas na final, que não jogaram o futebol que sabem jogar, que sucumbiram diante da pressão, mas nem isso, nem isso dá pra dizer! Elas jogaram um bolão, foram superiores o tempo todo. Parece que até a meritocracia só vale para os ricos neste mundo...
É injusto, é injusto no limite do incompreensível.
A frase do dia hoje só poderia ser uma:
“Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem.”
(Evangelho de São Mateus 13, 12)
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Vamos chamar a derrota do que ela realmente é: derrota
Abri a página do UOL hoje de manhã para conferir os resultados da final de Ginástica Olímpica feminina por equipes e me deparei com a seguinte manchete: “Salto e Solo atrapalham Brasil nas finais”. Por esta manchete pode-se facilmente deduzir que elas não foram bem. Mas eu sabia mais. Como assisti pela TV até a terceira rotação de aparelhos – para quem não sabe, são quatro no total – eu já previa que o resultado que a manchete escondia era: “Brasil fica em último lugar na competição por equipes”. Depois de procurar um pouco, encontrei os resultados gerais e batata: Brasil em 8º lugar. Oitavo de oito, ou, em outras palavras, último. Fiquei revoltada. Por que não chamar as coisas do que elas realmente são? Por que não encarar a realidade e crescer com ela? Ah, me embrulham o estômago essas tentativas de sobrevalorizar nossos resultados, de camuflar as notícias pra não mostrar nossos fiascos, de destacar e explorar cada pequena vitória até a exaustão e não mostrá-la em verdadeira escala.
Eu, se fosse atleta, dispensaria esse tipo de piedade da imprensa. Acho os eufemismos mais humilhantes do que a verdade nua e crua.
O fato é: não somos uma potência esportiva. Não se trata de desmerecer os atletas que estão lá. Eles fizeram muito, de fato. Chegaram onde estão apesar de todas as dificuldades do esporte profissional nesse país. Mas o “onde eles estão” ainda é muito longe do que o Brasil poderia fazer. E negar esse fato definitivamente não nos ajuda a evoluir.
Heroísmo mesmo seria encher a boca pra dizer: ficamos em ÚLTIMO, foi um vexame. E emendar: vamos melhorar, vamos trabalhar mais e mais porque o último lugar não é o que queremos. E se não for nessa geração que seja próxima. E se não for na próxima que seja na outra ainda. Mas que exista essa consciência maior, essa busca da excelência norteando cada treino e cada competição.
Celebrar um último lugar, consolar-se com frases do tipo “essas meninas chegaram às finais pela primeira vez, só isso já um grande resultado” e todo esse bla bla bla conformista, isso é o mesmo que dizer “nunca chegaremos lá, o primeiro lugar é só pras chinesas e americanas, nós, reles mortais, temos que nos contentar com o 8º lugar”. Pra mim isso esconde um problema bem mais profundo, algo como uma resignação intrínseca, um espírito de submissão, um medo incontornável do desafio... não sei bem como definir. Provavelmente daria um bom estudo sociológico.
E só pra exasperar de vez aqueles que discordam da minha posição, acrescento que sou radicalmente contra a realização de Olimpíadas no Brasil. Ainda escreverei um post específico sobre isso, está na minha lista. Mas os motivos são mais ou menos os mesmos expostos aqui: come on! Quem é que acha que nós realmente temos condições de sediar uma Olimpíada! Vamos encarar a realidade, esse país ainda tem um longo caminho a percorrer antes de ter condições de tocar um projeto desses.
E chega por hoje. Desabafei a revolta!
(texto escrito em 13/08).
Eu, se fosse atleta, dispensaria esse tipo de piedade da imprensa. Acho os eufemismos mais humilhantes do que a verdade nua e crua.
O fato é: não somos uma potência esportiva. Não se trata de desmerecer os atletas que estão lá. Eles fizeram muito, de fato. Chegaram onde estão apesar de todas as dificuldades do esporte profissional nesse país. Mas o “onde eles estão” ainda é muito longe do que o Brasil poderia fazer. E negar esse fato definitivamente não nos ajuda a evoluir.
Heroísmo mesmo seria encher a boca pra dizer: ficamos em ÚLTIMO, foi um vexame. E emendar: vamos melhorar, vamos trabalhar mais e mais porque o último lugar não é o que queremos. E se não for nessa geração que seja próxima. E se não for na próxima que seja na outra ainda. Mas que exista essa consciência maior, essa busca da excelência norteando cada treino e cada competição.
Celebrar um último lugar, consolar-se com frases do tipo “essas meninas chegaram às finais pela primeira vez, só isso já um grande resultado” e todo esse bla bla bla conformista, isso é o mesmo que dizer “nunca chegaremos lá, o primeiro lugar é só pras chinesas e americanas, nós, reles mortais, temos que nos contentar com o 8º lugar”. Pra mim isso esconde um problema bem mais profundo, algo como uma resignação intrínseca, um espírito de submissão, um medo incontornável do desafio... não sei bem como definir. Provavelmente daria um bom estudo sociológico.
E só pra exasperar de vez aqueles que discordam da minha posição, acrescento que sou radicalmente contra a realização de Olimpíadas no Brasil. Ainda escreverei um post específico sobre isso, está na minha lista. Mas os motivos são mais ou menos os mesmos expostos aqui: come on! Quem é que acha que nós realmente temos condições de sediar uma Olimpíada! Vamos encarar a realidade, esse país ainda tem um longo caminho a percorrer antes de ter condições de tocar um projeto desses.
E chega por hoje. Desabafei a revolta!
(texto escrito em 13/08).
domingo, 17 de agosto de 2008
Lendas olímpicas
Terei eu nesta vida a chance de ver o nascimento de uma lenda?
Não sei se isso acontece com todo mundo, mas toda vez que eu sento em frente a TV para ver uma competição de ginástica olímpica fico secretamente esperando uma apresentação histórica, aquela que deixará o mundo boquiaberto, que fará os jurados rasgarem as notas, que mudará os rumos do esporte e quiçá fará até os ateus crerem por alguns instantes.
Nunca se sabe quando o Olimpo resolverá tocar alguém.
De minha, parte continuo aguardando a chance de crer!
(PS: texto originalmente escrito em 10/08/2008. Mais um para a longa série “Olimpíadas”!)
Não sei se isso acontece com todo mundo, mas toda vez que eu sento em frente a TV para ver uma competição de ginástica olímpica fico secretamente esperando uma apresentação histórica, aquela que deixará o mundo boquiaberto, que fará os jurados rasgarem as notas, que mudará os rumos do esporte e quiçá fará até os ateus crerem por alguns instantes.
Nunca se sabe quando o Olimpo resolverá tocar alguém.
De minha, parte continuo aguardando a chance de crer!
(PS: texto originalmente escrito em 10/08/2008. Mais um para a longa série “Olimpíadas”!)
Sobre os limites da crueldade humana
Quem foi que teve a idéia perversa de fazer uma trave de equilíbrio???
Ah, mas quando achamos que a agonia não terá mais fim, vem uma garotinha de 1,45m chamada Shawn Johnson e diz: “vocês sabem o que a gente faz com a crueldade humana? A gente pula nela e dá saltos mortais duplos com piruetas. Sorrindo”.
No youtube também tem uns exemplozinhos bacanas:
http://www.youtube.com/watch?v=4qQq9lhNwHA)
(texto originalmente escrito em 12/08/2008, dia em que assisti à final da ginástica feminina por equipes).
Ah, mas quando achamos que a agonia não terá mais fim, vem uma garotinha de 1,45m chamada Shawn Johnson e diz: “vocês sabem o que a gente faz com a crueldade humana? A gente pula nela e dá saltos mortais duplos com piruetas. Sorrindo”.
No youtube também tem uns exemplozinhos bacanas:
http://www.youtube.com/watch?v=4qQq9lhNwHA)
(texto originalmente escrito em 12/08/2008, dia em que assisti à final da ginástica feminina por equipes).
sábado, 16 de agosto de 2008
Momento de Decisão
O momento de decisão é, antes de tudo, solitário. Olha-se em volta e nada oferece conforto. Por algum motivo que você desconhece, a mágica se quebrou e tudo que antes inspirava e explicava agora é inerte. Os estranhos no metrô, antes vivos personagens de uma história em andamento, agora são apenas pessoas no metrô. A música, que antes levava às lágrimas, agora passa reto pelo coração. Os amigos, sempre fontes inesgotáveis de sentido para a vida, já não pertencem à vida que você vive nesse momento. Você tenta de novo, uma, duas, três vezes e nada acontece, todos soltaram da sua mão. A sensação de desamparo é pungente. E então você compreende: este é um portal que deve ser cruzado sozinho.
É um grande passo, ao mesmo tempo o mais difícil e mais fácil de todos. Difícil pelas razões já expostas, fácil porque no fundo não é uma escolha. Não dar esse passo não é uma opção, a ponte atrás de você já desmoronou.
E mesmo assim você hesita infinitamente.... O que é o medo!
Sozinho, é assim que se vai. Com um leve sorriso de despedida para quem fica. Com um frio no estômago, uma vertigem, uma contração de músculos. E num instante você está no ar, no vazio. O terror e o alívio se misturam em partes iguais. Até que... até que o que? Não se sabe. Não há nenhuma garantia.
A isto poderia chamar-se nascer.
É um grande passo, ao mesmo tempo o mais difícil e mais fácil de todos. Difícil pelas razões já expostas, fácil porque no fundo não é uma escolha. Não dar esse passo não é uma opção, a ponte atrás de você já desmoronou.
E mesmo assim você hesita infinitamente.... O que é o medo!
Sozinho, é assim que se vai. Com um leve sorriso de despedida para quem fica. Com um frio no estômago, uma vertigem, uma contração de músculos. E num instante você está no ar, no vazio. O terror e o alívio se misturam em partes iguais. Até que... até que o que? Não se sabe. Não há nenhuma garantia.
A isto poderia chamar-se nascer.
Frases que eu gostaria de ter escrito - I
Pretendo manter neste Blog uma seção chamada "Frases que eu gostaria de ter escrito".
Para inaugurá-la, duas frases tiradas do filme "Notas sobre um escândalo", baseado no livro homônimo de Zoe Heller:
"It takes courage to recognize the real as opposed to the convenient."
Verdade, não? Tão verdade e em tantos níveis diferentes que até me assusta.
"one learns one's scale"
A frase está fora de contexto, mas não é preciso muito contexto para saber que ela está falando de conhecer os próprios limites, um assunto que dá muito pano pra manga. Mas não foi o assunto que me chamou a atenção e sim a forma. Que elegância! Que brevidade! Que precisão! Como dizer algo tão doloroso em tão poucas palavras? É um tiro certeiro, é um tapa seco na cara. Ninguém ouve uma frase dessas e sai ileso.
Para inaugurá-la, duas frases tiradas do filme "Notas sobre um escândalo", baseado no livro homônimo de Zoe Heller:
"It takes courage to recognize the real as opposed to the convenient."
Verdade, não? Tão verdade e em tantos níveis diferentes que até me assusta.
"one learns one's scale"
A frase está fora de contexto, mas não é preciso muito contexto para saber que ela está falando de conhecer os próprios limites, um assunto que dá muito pano pra manga. Mas não foi o assunto que me chamou a atenção e sim a forma. Que elegância! Que brevidade! Que precisão! Como dizer algo tão doloroso em tão poucas palavras? É um tiro certeiro, é um tapa seco na cara. Ninguém ouve uma frase dessas e sai ileso.
Aprendendo a escrever com a Clarice
Sobre a técnica da humildade:
"Humildade como técnica é o seguinte: só se aproximando com humildade da coisa é que ela não escapa totalmente."
(Clarice Lispector em crônica de 4 de Outubro de 1969, capturada na coletânea "A Descoberta do Mundo")
"Humildade como técnica é o seguinte: só se aproximando com humildade da coisa é que ela não escapa totalmente."
(Clarice Lispector em crônica de 4 de Outubro de 1969, capturada na coletânea "A Descoberta do Mundo")
Post inaugural
Começo o blog como quem tem fome e acha comida. Eu como, pois é a única coisa a se fazer.
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