sábado, 27 de setembro de 2008

Disco da vez: In Rainbows

Desde que ouvi In Rainbows, o último CD do Radiohead, pela primeira vez, não consegui mais largá-lo. Foi amor à primeira escuta. E um amor que se modifica e se renova a cada vez que o CD dá a volta. Quase todas as canções já tiveram a sua vez como “preferida”. E cada vez que as ouço percebo novos detalhes e novas interpretações, mostrando que o processo de descoberta ainda está longe de terminar...

O CD foi lançado há quase um ano, é uma vergonha que só agora eu tenha me dado o trabalho de escutá-lo. Na época a maior surpresa foi a forma não convencional do lançamento: eles colocaram o CD à disposição para download no site e qualquer um podia baixá-lo pagando a quantia que achasse justa (sim, zero era considerado justo também!). Mais uma vez pensei comigo mesma, “esses caras são geniais”... Mas eu mesma enrolei para acessar o site, e quando fui fazê-lo, meses depois, já não estava mais disponível. Não importa, talvez eu não estivesse mesmo pronta pra ouvi-lo naquela época. E os R$29,90 que paguei agora foram mais do que justos.

Cada música tem suas próprias surpresas. A delicadeza de Nude, a batida hipnotizante e deliciosa de House of Cards, entremeada por aqueles sons fantasmagóricos (e olha que de sons fantasmagóricos eles entendem!), o jogo de palavras perfeitamente planejado e executado (“what you ought to, what you ought to...”) de Faust Arp, junto com aqueles violinos, a fúria adolescente de Jigsaws Falling Into Place (aliás, what the hell significa este título???) seguido pelo final em ritmo de marcha fúnebre, mas belo e otimista de Videotape... É um disco imperdível.

Também aumenta cada vez mais minha admiração pelo Tom Yorke como vocalista. A maneira como ele domina cada palavra que está sendo dita e acrescenta, assim, uma camada a mais à música, é para poucos. O melhor exemplo é a doçura infinita com que ele canta os versos nada doces de Faust Arp (“I’m stuffed, stuffed, stuffed...” ).

Eu não me atreveria a interpretar as letras, mas algumas frases são inspiradas demais pra passar despercebidas. Dentro ou fora de contexto, são daquele tipo que fazem você sentir que sabe exatamente do que o cara está falando:

De Weird Fish/Arpeggi:

“Everybody leaves
If they get the chance
And this is my chance”

De All I need:

“I am all the days that you choose to ignore”

A minha preferida, de Nude:

"Now that you’ve found it, it’s gone
Now that you feel it, you don’t "


E o contraponto entre o primeiro e o último verso do CD:

“How come I end up where I started
How come I end up where I went wrong”

Contra:

“I won't be afraid
Because I know today has been
The most perfect day I've ever seen”

Não dá pra dizer que foi proposital. Mas mesmo que tenha sido mera coincidência, só vem mostrar que quem é bom, faz coisa boa até sem querer.

Eu não esperava menos do Radiohead, é claro. Engraçado que eu os venero tanto que quando alguém me pergunta que tipo de música eu gosto de ouvir dificilmente eu menciono o Radiohead. Não sei, eu sinto como se incluí-los no rol comum das bandas que eu gosto fosse quase um desrespeito. Mais de uma vez, numa dessas conversas com pessoas que você está ainda conhecendo, já me peguei “censurando” o Radiohead e pensando “não, acho que ainda não confio o suficiente nessa pessoa para que ela mereça saber sobre isso”. Certos tesouros a gente só pode entregar depois de muita confiança. Minha relação com o Radiohead é um deles.

3 comentários:

Daniel Santana disse...

Giovana, certamente é um comentário estúpido, resultado de uma mente quase racional. Mas não vejo muito sentido em contar no blog algo que você não conta para qualquer um por aí. Que tipo de maluco deve ler seu blog? Por sinal, seus textos continuam muito bons...

Giovana disse...

Ahá! Este é o ponto. Se eu resolvi me abrir a respeito desse assunto, foi porque surgiram outros assuntos para serem escondidos. Essa coisa é meio dinâmica, conforme novos "tesouros" vão surgindo os tesouros mais antigos podem cair na escala...
Mas, apesar desta explicaçao, a contradição que vc apontou existe, sim. Deve ser, entre outras coisas, porque eu acho mais fácil escrever do que falar...

Daniel Santana disse...

Muitos acham mais fácil escrever do que falar. Ou melhor, menos difícil... Não acho que seja muito diferente. Ao falar, pesa-se menos o efeito de cada palavra. E ao escrever, isso é feito além da conta. No fim, continua complicado...