quarta-feira, 28 de julho de 2010

Esqueci o número 5

Acabei de me dar conta de que escrevi um post com os “4 melhores momentos” de um livro construído em cima de listas de “5 mais”. Um disparate. Felizmente, não foi difícil achar um quinto trecho para adicionar à lista. Segue aí:

5) Nesta parte do livro Rob está irritado porque Liz, a melhor amiga de sua ex-namorada, o acusa de ser um daqueles típicos homens que tem pavor de compromisso e buscam só diversão. Ele começa a pensar, então, porque nunca havia dito “Eu te amo” para Laura (a ex-namorada). Rob obviamente não era o clichê ambulante que Liz pensava e suas reflexões levam novamente à questão da busca do momento perfeito...

Dizer ‘Eu te amo’ é fácil, moleza, e quase todos os homens que eu conheço fazem isso o tempo todo. Eu agi como se não conseguisse dizer isso algumas vezes, embora eu não saiba direito o porquê. Talvez eu quisesse emprestar ao momento aquela espécie de sentimentalismo barato no melhor estilo Doris Day, talvez eu quisesse torná-lo mais memorável do que ele seria normalmente. Imagine, você está com alguém e você começa a dizer alguma coisa, aí você pára e ela diz ‘Vai, diga’, e você ‘Não, vai soar ridículo’, e ela então arranca as palavras de você, mesmo que você tivesse a intenção de dizê-las desde o início, e ela acha que tudo foi ainda mais valioso por ter sido conquistado a duras penas. Talvez ela soubesse o tempo todo que você estava brincando, mas ela não liga. É como uma frase: isso é o mais perto que qualquer um de nós chegará de um filme, aqueles poucos dias em que você compreende que gosta de alguém o suficiente para dizer a ela que a ama, e você não quer estragar o momento com um bolo de sinceridade certinha, direta e sisuda.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Highlights de "Alta Fidelidade"

Acabei de ler recentemente o livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby. A maioria das pessoas provavelmente conhece essa estória através do filme homônimo, lançado em 2000 e estrelado pelo John Cusack. Pra quem não se lembra, é o filme com o cara das infinitas listas de “5 mais”: os 5 melhores álbuns de todos os tempos, os 5 melhores filmes de guerra, as 5 melhores músicas de morte, os 5 piores términos de namoro, os 5 empregos dos seus sonhos e assim por diante. O filme é delicioso, mas o livro, pra variar, é melhor ainda. É um desses livros que pegam pessoas comuns e acontecimentos comuns e transformam tudo em algo especial, levando-nos a pensar que talvez a nossa vida, tão comum, tão parecida com a daqueles personagens, seja especial também.

Seguem alguns trechos que fui marcando ao longo da leitura porque me fizeram rir e pensar. Infelizmente não marquei tudo o que merecia ser destacado, mas o livro inteiro vale a pena. Recomendo!

1) Rob (o personagem principal), refletindo sobre o fim de relacionamento número 5 de sua listinha. Sua namorada de então, Sarah, era uma pessoa que ele achava que nunca daria o fora nele, porque eles eram muito parecidos. Ela era diferente da anterior, Charlie, que Rob considerava muita areia pro seu caminhãozinho e que, portanto, só poderia dar-lhe mesmo um pé na bunda, mais cedo ou mais tarde, como realmente aconteceu. No entanto, o inesperado acontece e Sarah também dá-lhe um pé na bunda. Inconformado, Rob conclui, então, que não é porque a Sarah não era uma “miss” como a Charlie que ele estava seguro. E coroa a sua reflexão com o seguinte pensamento:

Você corre o risco de perder qualquer pessoa com quem valha a pena estar junto, a não ser que você seja tão paranóico com isso que você escolha alguém absolutamente impossível de perder, alguém que ninguém mais no mundo poderia querer.

O triste é que já conheci pessoas assim... pessoas tão inseguras (incompreensivelmente inseguras!) que só conseguiam escolher parceiros que tinham certeza que nunca iriam perder. A um custo que, pode-se imaginar, não era barato. Vai entender...

2) Rob reflete sobre o “olhar do amor”, ou melhor, sobre a inexistência do mítico “olhar do amor”. Segundo ele, uma das coisas mais frustrantes da vida seria perceber o quanto a realidade é medíocre, desprovida de brilho, de emoções, enfim, o quanto a realidade é banal, e o quanto a gente se frustra ao esperar que ela seja perfeita e especial como a ficção. Isso me lembra aquele episódio do Sex and the City em que a Charlotte, a mais romântica das quatro amigas, pede o próprio namorado em casamento. Ela fica inconformada com isso, pensando que tinha saído tudo errado, que ele é que deveria ter feito o pedido, de joelhos, num lugar especial, do jeito que ela sempre havia sonhado. E na prática, não foi nada disso...Vendo por esse lado parece que a ficção nos presta um grande desserviço, criando em nós expectativas inatingíveis. Na vida real tudo acontece em momentos inapropriados, de forma meio aparvalhada, sem trilha sonora, com pressa, com sono, com frio, com alguma coisa nos distraindo, uma dor de dente, uma panela queimando no fogo... O pior é que mesmo quando as coisas dão errado nós ainda tentamos transformar a situação numa cena de comédia romântica. E se não funciona, continuamos frustrados. Acho que não existe nada mais difícil de se atingir do que a magia de um momento perfeito. Mas isso é assunto para um post separado. Segue o trecho:

As mulheres estão enganadas quando reclamam da imagem da mulher propagada pela mídia. Os homens entendem que nem todo mundo pode ter os peitos da Brigitte Bardot, ou o pescoço da Jamie Lee Curtis, ou o bumbum da Felicity Kendall, e nós absolutamente não nos importamos com isso. Obviamente nós preferiríamos a Kim Basinger ao invés da Hattie Jacques, do mesmo jeito que as mulheres prefeririam o Keanu Reeves ao invés do Bernard Manning, mas não é o corpo que é importante, e sim o grau de degradação que temos que aceitar. Nós homens entendemos bem rápido que as “Bond girls” estavam fora da nossa alçada, mas o fato de que as mulheres nunca olhariam para nós da maneira que Ursula Andress olhava para o Sean Connery, ou mesmo do jeito que Doris Day olhava para Rock Hudson, foi muito mais difícil de aceitar. Na verdade, acho que eu nunca aceitei.

3) Reflexões de Rob sobre inseguranças masculinas naquele departamento. Esse trecho faz parte de um capítulo hilário sobre o encontro dele com uma cantora, em que ele descreve, mais uma vez com muita inteligência, a mediocridade deprimente da vida real. Num filme mais convencional, a situação seria descrita como o encontro de dois amantes fogosos, fora de controle, que não pensam em nada, apenas fazem. Ali, ele estava realmente preocupado com o papelão que faria se a blusa que ele estava usando enroscasse na cabeça quando ele fosse tirá-la. É o típico anti-romantismo da realidade!

Veja todas as coisas que podem dar errado pro homem. Existe o problema de “simplesmente nada acontecer”; existe o problema de “acontecer rápido demais”; existe o problema de “acontecer muito pouco após um começo promissor”; existe o problema do “tamanho não importa, exceto no seu caso”, existe o problema de ela não chegar lá... e enquanto isso, o que as mulheres têm para se preocupar? Um punhado de celulite? Bem-vindas ao clube.

4) Rob também tem seus dilemas no lado profissional. Neste episódio, ele reflete sobre um evento que vai promover em sua loja de discos e sobre o quanto isso o assustava. Talvez o trecho abaixo soe um pouco obscuro para a maioria das pessoas. Para mim, fez todo o sentido. Sei exatamente do que ele está falando quando diz que é perigoso se envolver de verdade com algo. Se você investe de verdade em algum projeto, se diz pra si mesmo “é isso que eu quero fazer”, dá tudo de si e no final fracassa, o que sobra de você? Às vezes é mais seguro não dar o máximo, assim se as coisas derem errado você ainda tem uma desculpa. Viagem?...

É uma coisa de nada, esse show. No fim das contas será apenas meia dúzia de músicas ao violão, na frente de meia dúzia de gatos pingados. O que me deprime é o quanto eu vibrei com o montante ridículo de preparativos (alguns pôsteres, meia dúzia de telefonemas para conseguir umas fitas) que isso envolveu. E se eu estiver para descobrir que não estou satisfeito com o meu quinhão? O que faço, aí? A idéia de que a quantidade de ... de vida que eu tenho no prato não seja suficiente para me completar é assustadora.