quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mais um filme. Eu não resisto...

Do jeito que vamos parece que eu sou uma deslumbrada que gosta de qualquer coisa que vê, não? Mas o fato é que eu realmente fui agraciada com ótimos filmes ultimamente.

A vida secreta das palavras, este é o filme-assunto de hoje. Outro roteiro impecável, que mostra o que tem que ser mostrado, esconde o que tem que ser escondido e insinua o que tem ser insinuado. Tudo a seu devido tempo, tudo no seu devido ritmo. Parece simples depois de pronto, mas cansei de ver filmes que erraram a mão nesse quesito. E é o tipo de coisa que, quando bem feita, passa despercebida.

O filme aborda de uma maneira inusitada um assunto pra lá de tenebroso. Na verdade seria incorreto afirmar que o filme “é sobre esse assunto”. O filme é algo que eu não sei definir. Uma história de amor? Um drama? Um mistério? Talvez tudo isso. Mas o fato é que “o assunto” me tirou o sono. Lembrei-me de quando eu via filmes de terror quando era criança e, pra conseguir dormir depois, eu ficava repetindo, como um mantra: “não é de verdade, não é de verdade, aquilo não existe”. O problema é que neste caso é tudo verdade, e isso dói na alma.
Em Ensaio Sobre a Cegueira Saramago mostra como a precariedade das condições materiais pode transformar humanos em animais. Este filme me leva a pensar que outras condições levam homens a se tornarem animais. A que profundos infernos um homem tem que descer para cometer as atrocidades de que ouvimos falar todos os dias? Quando o assunto é o holocausto, por exemplo, todo mundo se lembra de Hitler. Incontáveis livros e filmes já contaram sua história, na escola aprendemos tudo sobre ele e sempre que alguém precisa de um exemplo de pessoa má o nome que vem à mente é esse. Hitler virou um símbolo de maldade. Mas o aspecto dessa história que estranhamente eu nunca ouvi falar é: quem foram as pessoas que operacionalizaram o holocausto? O que levou aqueles homens a passarem por cima do mais rudimentar senso de moral e executarem pessoas inocentes? Quando se fala de um assassino em particular, de um torturador, pode-se até achar explicações “plausíveis”, como distúrbios mentais, ambição desmedida ou qualquer coisa assim. Mas quando centenas, por vezes milhares de homens, se juntam para cometer atrocidades, qual é a explicação?

Anyway, esqueçam “o assunto”. O filme é delicado e intenso, para ser experimentado sem pressa. Tenho certeza que um monte de gente dirá que é muito parado, e é mesmo, mas isso faz parte da experiência. Relaxe e assista. Você verá como a história vai se infiltrar nos confins da sua memória e, mesmo muito tempo depois, você se pegará pensando nela, sem perceber.

There are very few things… silence and words.

Um comentário:

Unknown disse...

Enquanto não assisto o filme objeto de seus elogios, proponho que assista um filme objeto de suas dúvidas...
"...quem foram as pessoas que operacionalizaram o holocausto? O que levou aqueles homens a passarem por cima do mais rudimentar senso de moral e executarem pessoas inocentes?..."

Ver O julgamento de Nuremberg, um bom filme, sobre coisas ruins e reais.