Ontem de manhã tomei café numa padaria chamada Marco Polo. Na parede havia uma simpática placa contando os feitos de Marco Polo. Segundo a placa, ele viajou à Ásia e trouxe para a Europa novidades inimagináveis na época, como a pólvora, o macarrão e a bússola. Isso foi no século XIII. Muito tempo atrás? Parei pra pensar nisso e fui divagando, divagando, até que meu cérebro, depois de abastecido com um pouco de cafeína, foi recair numa frase do livro Quando Nietszche Chorou, que dizia o seguinte: “Uma perspectiva cósmica sempre atenua a tragédia. Se subirmos bastante, atingiremos uma altura da qual a tragédia deixará de parecer tragédia.”
Perspectiva cósmica... essa expressão colou em mim desde que li o livro e nunca mais saiu. E agora retorna, quando vejo a placa sobre Marco Polo numa singela padaria. Se foi no século XIII que ele viveu, faz uns 800 anos, certo? É tanto tempo assim? Você tem certeza? Quantos anos durará a espécie humana sobre a terra? Não pude deixar de me fazer esta pergunta. Talvez um asteróide nos destrua no próximo século, talvez nós mesmos nos matemos em guerras sangrentas, talvez o aquecimento global cause uma nova era glacial e nos dizime muito antes disso. Mas talvez, e esta é uma possibilidade tão concreta quanto todas as outras, nós ainda vivamos aqui por centenas, talvez milhares de outros séculos. E é aí que entra a perspectiva cósmica! Você já parou pra imaginar que nós podemos estar na infância da espécie humana? Pare um minuto e pense nisto como um fato. Numa história de, vamos chutar, 100 mil anos, faz pouco mais de 500 anos que os humanos conhecem o planeta todo! Marco Polo foi um dos primeiros europeus a visitar a Ásia. Antes dele, e até mesmo muito depois dele, aquilo era como outro planeta para os europeus. A América, então, ficava depois do fim do mundo, onde a terra acabava e os navios caíam para fora do planeta! Os índios aqui não sabiam da existência dos europeus e vice-versa. E hoje voamos pra lá e pra cá, pro Alaska e pra Antártida, conversamos com amigos na Austrália, em Dubai, na Suíça, nos EUA e na Amazônia. Mas até outro dia, nossos antepassados nem sabiam da existência uns dos outros! Isso não faz você se sentir ridículo?? Imagine como você pensaria se fosse um humano do ano 82327, olhando pra trás, para o ano de 2008 D.C. “Uns merdinhas que mal tinham acabado de descobrir o próprio planeta... e tão, tão preocupados com as tragédias de seu tempo, e tão, tão arrogantes com as novidades do seu tempo...” O quê? Eu, com meu lindo e todo-poderoso Iphone, um primata?!! Pois é... não é muito agradável pensar em si mesmo como um homem das cavernas, não é? Mas a idéia da perspectiva cósmica pode ser também reconfortante. Olhando desse jeito, toda a crise financeira iniciada nos EUA, a guerra no Iraque, a fome na África, o crescimento da China, a corrupção no Brasil, tudo isso não parece muito pequeno? Quantos impérios nascerão e morrerão em tantos anos de história que estão por vir? Quantos povos dominarão e quantos outros serão dominados e quantas vezes esses papéis serão invertidos?
Aos poucos, porém, fui deixando de lado essa reflexão maluca e voltando à minha micro realidade, o café, o pão-de-queijo, a chuva do lado de fora, o bilhete de metrô que eu precisava comprar... Mas o riso não saiu do meu rosto pelo resto do dia. Eu tenho essa virtude, eu acho, de saber rir de mim mesma. E a idéia de que até 500 anos atrás as pessoas da minha espécie não conheciam o próprio planeta é mesmo muito engraçada!
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6 comentários:
A-DO-REI! Achei meus proplemas ridículos depois disto. E como você ri de mim mesma.
Giovana... conforme de sua sabedoria....
"O homem nada mais é que um macaco (muito) complicado..."
Exemplo a seguir no link... Dance, Monkeys Dance...
http://www.youtube.com/watch?v=m89rYW0epTs
As pessoas reagem de maneiras distintas a descoberta da sua própria insignificância. Alguns se refugiam no hedonismo, enquanto outros desejam provar o contrário, mostrando que sem eles, esse futuro distante será diferente.
É o antagonismo do momento e do propósito.
Que tipo de pessoa você é?
Giovana,
eu costumava dizer que a civilização ainda está nos transitórios, muito longe do regime permanente ...
Insignificância?
http://en.wikipedia.org/wiki/Pale_Blue_Dot
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