domingo, 7 de setembro de 2008

“O Procurado”: um conto de fadas moderno

Vi hoje no cinema “O Procurado”, com Angelina Jolie e Morgan Freeman.
Escolhi este filme ludibriada por mim mesma. Não sei por que eu tinha certeza de que se tratava de outro filme e por isso nem me preocupei em ler a sinopse. Se tivesse lido, com certeza não teria ido. O filme todo é uma grande bobagem. E não é que eu não goste de ver uma bobagem de vez em quando, mas é preciso estar no espírito.
Não haviam se passado ainda 10 minutos de filme e eu já tinha a classificação perfeita para ele: conto de fadas moderno. Um sujeito totalmente insignificante leva uma vida miserável num emprego mortalmente entediante e se pergunta todos os dias se é possível que sua vida seja realmente tão patética e que ele realmente não se importe com isso. Até que um dia aparece ninguém mais ninguém menos que Angelina Jolie dizendo-lhe que não, ele não era insignificante! Ele era, na verdade, um homem com habilidades especialíssimas destinado a salvar a humanidade.
Ao invés de princesas subjugadas por madrastas malvadas ou amaldiçoadas por feiticeiras invejosas, a heroína aqui é o trabalhador insípido, humilhado todos os dias por uma chefe mais assustadora que qualquer bruxa já inventada pela literatura. E o príncipe encantado é a musa dos sonhos de dez entre dez homens atualmente, Angelina Jolie, que o resgata desse pesadelo da insignificância cavalgando uma BMW vermelha. O mote é o mesmo de incontáveis outros filmes e seriados. “Heroes”, por exemplo, é construído quase que exclusivamente sobre esse tema da necessidade incurável que temos de ser especiais, e extrai daí boa parte de sua empatia com o público.
Nada contra contos de fadas. Mas a má notícia é: se sua vida parece patética e insignificante, provavelmente ela é mesmo. E a Angelina Jolie e o Brad Pitt não vão aparecer pra te salvar.
Pelo menos no finalzinho o filme aparentemente “reajusta a mensagem” e se redime um pouco. Depois que tudo desmorona – inclusive a Angelina Jolie – o personagem central se vira para o público e diz algo do tipo: “Eu assumi o controle da minha vida. E você, está fazendo o que?”
Outra grande bobagem, esta não tão inofensiva, é a tal da Fraternidade. A idéia de que alguns seres humanos são “especiais” e por isso têm “licença para matar”, em nome de um ideal maior ou em nome do que quer que seja, já causou muita estupidez nesse mundo. A trajetória desesperadora de Raskolnikov em Crime e Castigo, por exemplo, mostra brilhantemente a falácia deste raciocínio. Se obras-primas já foram escritas a esse respeito, acho impressionante – e perigoso – que algumas pessoas ainda se deixem seduzir por essa idéia. E que elas tenham dinheiro para divulgá-la em superproduções holywoodianas que são vistas no mundo inteiro. Não quero inventar teorias da conspiração, o filme não é panfletário, é entretenimento e nada mais. Mas é preciso estar atento, pois às vezes é da maneira mais inocente que se insinuam as idéias mais perversas.

3 comentários:

sam disse...

Hahaha!
Caiste no conto do vigario tambem? Eu fui ver este filme num dia que estava muito aborrecida com meu trabalho e depois dos 10 primeiros minutos eu quase chorei: era a minha vida ali na tela?
Mas para mim o mais absurdo nao eh a fraternidade, ou gente que acha que a Angelina vem nos salvar do nosso dia-a-dia desgracado, mas que tem gente que acredita no Tear do Destino (foi assim que traduziram?).

ARGH!!!
Beijinhos
Sa

Unknown disse...

E o filme nem é classificado como ficção, foi categorizado como ação, tudo bem que tem uns tirinhos... mas vá lá nem em Matrix as balas faziam curvas. Somente àquela cena no trailer inviabilizou a minha transferência de capital para a indústria cinematográfica norte-americana.

Dzu disse...

Gi será que quando nos sentirmos infelizes o Brad vai nos salva?