segunda-feira, 6 de julho de 2009

Flip - dia 3

Um dia glorioso!

Tem coisas que só a Flip proporciona pra você!

Pra começar, a mesa 11, com Alex Ross, o americano que escreveu um best-seller sobre música clássica do século XX chamado "O resto é ruído". O cara é demais. Começou o debate tocando o início da Sagração da Primavera, de Stravinsky, e depois leu um trecho do seu livro em que descreve a noite de estréia dessa obra em Paris: houve brigas, confusão, competição entre vaias e aplausos, um verdadeiro barraco, tamanho o choque do público com aquele novo estilo de música. E o comentário dele a seguir:

"toda vez que vou a uma sala de concerto eu fico esperando que algo semelhante aconteça. Mas infelizmente nunca aconteceu e acho que nunca vai acontecer. Não existe mais um público assim tão envolvido com a música a ponto de se rebelar contra algo que não goste. As pessoas parece que tem medo de tomar partido, tem medo de ficar do lado errado da história"

Muito bem, seu Alex, muito bem!
Eu já tinha ouvido falar dessa história e também tinha pensado como seria legal ir a um concerto e ver as pessoas brigando por causa da música, hehe.

A mesa a seguir (12) foi algo inacreditável. Eles conseguiram trazer um ex-casal de namorados para debater ali, em público, o fim da relação e as obras de arte feitas a partir desse relacionamento.

A duplinha era composta pelos franceses Gregoire Bouillier e Sophie Calle.

A Sophie merecia um ensaio só pra ela (já dei uma palinha num outro post). Que mulher extraordinária! Multi-artista total, escritora, fotógrafa, artista plástica, agitadora cultural e sei lá mais o que. É impossível resumir aqui as histórias malucas que essa mulher já viveu.

Se ela por si só já daria assunto suficiente, vejam só o que foi esse debate. Sophie e Gregoire namoravam. Um dia ele manda um email pra ela terminando tudo. Ela fica puta e passa dias pensando em como responder esse email. Até que ela tem a idéia de fazer disso um novo projeto artístico. Ela contata uma centena de mulheres aleatórias, conta-lhes essa história e pede que escrevam a sua resposta. Isso virou uma exposição. O email do Gregoire e as respostas correram o mundo!

Já o Gregoire escreveu um livro chamado "O convidado surpresa" sobre o dia em que conheceu a Sophie.

Esse foi o primeiro encontro público deles desde então. Como eu disse, tem coisas que só a Flip traz pra você.

Foi muito engraçado. Esses franceses são mesmo muito pra frente.

Mas o mais bonitinho foi a Sophie dizendo que, a certa altura, ela se deu conta de que se o Gregoire voltasse, ela não terminaria o projeto, porque não faria mais sentido. Mas que ela nunca duvidou qual seria sua escolha neste caso: o namorado, e não a arte.

Será que, depois disso tudo, eu poderia esperar por algo ainda melhor na última mesa do dia? Eu não esperava, mas aconteceu: Antônio Lobo Antunes.
Quem???

Pois é, eu também não conhecia. Por isso estranhei quando o mediador do debate anunciou que seriam distribuídas senhas para quem quisesse autógrafos no final. Até então isso só tinha acontecido com o Chico!

Pois bem, Antônio Lobo Antunes é ninguém mais ninguém menos que o "Saramago II". Ou pelo menos foi essa a melhor definição que achei. Ele escreveu tantos livros quanto, recebeu tantos prêmios quanto, é tão famoso mundo afora quanto o "Saramago I". Só não é conhecido no Brasil, sei lá por que.
A entrevista foi cheia de piadinhas e referências ao "outro".

"Teria a academia sueca cometido um 'erro de português'?", perguntou o entrevistador a certa altura.

Mas ele não se abala. O cara é um figurão, com aquele humor português que eu já conhecia do Saramago, uma delícia. Rimos do início ao fim, com execeção das partes que não entendemos, já que aparentemente precisaríamos de uma tradução simultânea do português de Portugal para o brasileiro. Eita sotaquezinho difícil!
Foram muitos comentários sagazes.

Sobre o ofício de escrever por exemplo, ele disse:

"é preciso entender que a maioria das palavras existe para NÃO ser usada. Os adjetivos, por exemplo, são umas putas."

Sobre o que ele gosta de ler:

"eu gosto muito de poesia. A prosa pra mim é um problema, eu começo a ler e já tenho vontade de corrigir."

Numa divagação sobre arte:

"As Meninas, de Velazquez, é o maior livro, o melhor soneto, a melhor sinfonia, o melhor quadro que o homem já escreveu".

Obviamente agora que tenho que ler pra ver se os livros são mesmo tão bons quanto dizem. E aumenta a listinha!

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