segunda-feira, 30 de novembro de 2009

As criancinhas do Tchekhov

Já falei de Tchekhov aqui nesse blog. Mas quanto mais coisa eu leio dele mais eu me apaixono. Esse conto, por exemplo, chamado ironicamente de O Acontecimento, todo mundo que tem ou pretende ter filhos devia ler. Tem seis páginas somente e é muito simples, quase banal, mas cruel. Me faz pensar em como os pais conseguem destroçar os sonhos dos filhos sem nem perceber...

Passeio

Vi esse quadro enquanto folheava uma revista no sábado e ele ficou na minha cabeça.
A cara de psicopata desse homem, os pézinhos da bruxa da mulher, tudo tão doido, tão doido, que até parece um sonho de verdade.
Promenade - Marc Chagall

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O que as mulheres querem

Sempre que surge numa mesa de bar o velho assunto das diferenças entre homem e mulher, com cada lado provando por A + B porque é que o outro lado é que sempre estraga tudo, eu fico me perguntando porque as pessoas não aprofundam a discussão. Os argumentos usados são quase sempre os mesmos: os homens querem mais liberdade, as mulheres querem mais romance, e por aí vai. Nunca ouvi nenhum argumento que não girasse em torno disso. Fico na dúvida, então, se as pessoas não conseguem ir mais longe que isso ou se não querem. Sei lá, no fundo é até divertido manter a discussão acesa; se resolvermos entender de verdade o problema corremos o risco de solucioná-lo e aí os relacionamentos perderiam a graça!

Mesmo assim, resolvi expor aqui como eu vejo a questão do lado feminino. Tenho a vaga esperança de assim ajudar meus pobres amigos homens, que tanto sofrem com as inconstâncias da alma feminina.

As reclamações masculinas sempre giram em torno de como as mulheres infernizam as suas vidas com cobranças e desconfianças. "Ela não me deixa sair com meus amigos!", "Se eu vou no happy-hour ela fica de cara amarrada!", "Ela só pensa em casar!", "Ela quer que eu diga Eu te amo toda hora", "Ela quer um príncipe encantado", etc, etc. Que esses exemplos são reais eu não duvido. Mas a questão é: o que está por trás desse comportamento?

Bem, aqui vai uma humilde tentativa de explicação.

O que as mulheres querem é ser a coisa mais importante da sua vida. Mais importante que seu trabalho, mais importante que sua carreira, mais importante que sua família, que seus amigos, que seus planos, etc.
As simple as that.
Como assim?!!! Então ela quer que eu abra mão de toda a minha vida e me dedique exclusivamente a ela??
Na verdade não. A mulher não quer que você esteja ao lado dela 100% do tempo (na boa, a gente também não teria paciência pra te aturar todo esse tempo!), mas ela quer que você queira estar com ela. Você pode amar seu trabalho, pode sair com seus amigos, viajar, assistir o futebol, fazer o que quiser, desde que, lá no fundo, você esteja pensando nela. É como naquele filme Separados pelo Casamento, em que a Jennifer Aniston e o Vince Vaughn fazem um casal em crise. A certa altura, no meio de uma briga ela diz para ele: "Eu não quero que você lave a louça, eu quero que você queira lavar a louça!"
Como essa frase resume bem o espírito da coisa! Não importa tanto o que você faz, importa mesmo o que você quer fazer. Por isso você pode ter o trabalho e a mulher, os amigos e a mulher, o futebol e a mulher. No fundo, ela só precisa saber que, caso um dia você fosse confrontado com uma escolha, você escolheria ela. E como essa situação hipotética raramente se concretiza, na prática nada muda. Voce só precisa convencê-la de que ela é importante e que você pensa nela. Se ela acreditar nisso, você terá paz, eu garanto. Nada mais de cobranças, nada mais de desconfiança, nada mais de insegurança. Você poderá trabalhar até tarde quando quiser, ir a quantos happy-hours quiser, video-game, futebol, baladas, despedidas de solteiro, tudo estará liberado, porque a mulher está tranquila.

As perguntas que ficam, então, são: como convencê-la disso? E se não for verdade, devo mentir? E ela vai acreditar?
Bom, aí já não sei. Cada um sabe da própria vida. A única resposta que eu posso dar é: se a sua mulher está te enchendo o saco, o motivo, com grande chance de acerto, é esse. E se você quer que ela pare de te encher o saco, faça-a se sentir a coisa mais importante da sua vida. E se você não consegue, só vejo duas alternativas: arrume outra mulher que realmente seja importante pra você ou conforme-se em viver eternamente com a insegurança de alguém que sabe que está em segundo plano.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Qual é a coisa certa a fazer?

Uma dica sem preço recebida do Fábio:

http://www.justiceharvard.org/

Um professor de Harvard fez tanto sucesso com suas aulas polêmicas sobre Filosofia Moral que resolveram gravar suas aulas e transmiti-las pela Internet. Ao longo do curso, que se chama "Justiça", ele discute questões morais intrincadas com os alunos, sempre trazendo para a discussão os pensamentos de filósofos famosos que se dedicaram àqueles temas.
Algumas das questões "divertidas" que ele aborda nas aulas:

- existe alguma situação que justifica a tortura?
- você roubaria um remédio que um filho seu precisa para sobreviver?
- quanto vale a vida humana?
- o que é uma sociedade justa?

Muito melhor de que encontrar respostas, é entender como nossas justificativas são frágeis e aprender com o raciocínio de pessoas que se dedicaram a pensar sistematicamente sobre o assunto . Independente de qualquer resposta, uma discussão inteligente, com o espírito aberto, só nos faz evoluir. Nenhum estudante universitário devia se formar sem isso.

A despeito de toda a super produção tipicamente americana - que muitos poderiam usar como argumento para tentar desqualificar o programa - acho a iniciativa simplesmente genial. Quando vejo uma coisa dessas fico me perguntando por que aquele povo todo da FFLCH não para de repetir automaticamente aqueles discursos esquerdistas ultrapassados e vai atrás de fazer alguma coisa desse tipo. Ideologias a parte - e eu tenho aprendido como é difícil deixar as ideologias a parte! - uma discussão inteligente, baseada em autores consagrados, só tem a agregar.

Disparar opiniões inflamadas - de esquerda, de direita, de cima, de baixo, de onde for - é muito fácil. Difícil é embasar essas opiniões. Difícil é deixar a emoção de lado e aceitar imparcialmente novos argumentos. Difícil é encarar os próprios erros, descobrir as próprias falhas de caráter, ver um ponto-de-vista defendido durante uma vida inteira virar pó.

Fantástico, simplesmente fantástico.

O dilema do Blog

Eu sempre tento escrever no Blog coisas que possam ter interesse geral e não apenas pessoal. Tento também escrever de maneira impessoal, na medida do possível.
Mas que orientação difícil de seguir, viu!
Releio agora o texto das gerações e odeio aquele final pseudo-filosófico... Eu sei muito claramente o que tinha na cabeça quando escrevi aquele texto, mas travei quando tentei expressar aquilo de maneira geral.
No fundo tudo é pessoal. No fundo estou sempre pensando na minha vida e tentando entendê-la. E, vez ou outra, tenho a ousadia de pensar que isso poderia ser útil pra mais alguém.
Eu só queria compartilhar o que vejo, pois eu vejo muita coisa. Mas nesse dilema, vou deixando de lado grande parte do que escrevo.

Como é que se faz um blog, afinal, hein?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Bovary I

Acabei Madame Bovary.
Que mulherzinha odiosa, vil, burra, irritante!
E que delícia que é experimentar novamente esses sentimentos provocados pela ficção, como odiar uma pessoa que não existe!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Bibliografia do semestre

O que ando lendo para alimentar as minhocas na minha cabeça:

Em IEL (Estudos Literários), estamos na fase “contos”. Entre os que já lemos ou ainda vamos ler estão:·

O espelho, O Enfermeiro e A Causa Secreta, todos de Machado de Assis;·

A Queda Da Casa De Usher (Edgard Allan Poe);·

O Travesseiro De Plumas (Horácio Quiroga);·

O Capote e O Nariz (ambos de Nikolai Gogol);·

Colinas Parecendo Elefantes Brancos (Ernest Hemingway)·

O Acontecimento (Anton Tchekov).

Tudo isso acompanhado de infinitos textos da teoria literária sobre tempo, espaço, foco narrativo, etc. Na falta de tempo para dar conta de tudo, é claro que os contos acabam passando na frente dos textos... No final do semestre passaremos à análise do romance e então deveremos ler Madame Bovary. Se alguém tiver esse livro, aliás, e puder me emprestar, já agradeço!

Em IEC (Estudos Clássicos), já lemos a tragédia Édipo Rei, de Sófocles (sensacional!) e agora estamos na comédia Anfitrião, de Plauto. Antes de tudo, porém, começamos com A Arte Poética de Aristóteles, uma espécie de manual de como contar histórias. Com certeza foi a leitura mais útil do ano. Todas as matérias usam esse tratado como referência e, a meu ver, de George Lucas a Glória Perez, todo mundo segue os preceitos aristotélicos pra escrever suas histórias.

Em Lingüística, ficamos com o manual básico de lingüística II. Na verdade essa matéria tem pouca teoria e muito exercício, mas tem sido divertido decifrar trechos de línguas como Pocomchi, da Guatemala, Olsk, da Sibéria e Popoluca da Serra (México).

Fora isso, tenho tentado “relaxar” lendo Musashi, um célebre romance épico baseado na história japonesa. Na cabeceira da cama mantenho sempre também a coletânea de crônicas A Descoberta do Mundo, de Clarice Lispector, do qual, aliás, já saíram muitos posts para este Blog. Comecei a ler (e estava gostando) Deus é um Delírio, do Richard Dawkins, cuja palestra assisti na Flip deste ano, mas acho que só vou conseguir terminá-lo nas férias.

Acho que é isso.