A vida adulta às vezes me absorve tanto que eu acabo esquecendo que tive uma adolescência. Hoje, ao ouvir no rádio uma música do Legião Urbana, ela voltou de um golpe só e eu fiquei meio sem ar. Onde foi parar aquela pessoa? Tenho a sensação de que aquilo tudo aconteceu em outra vida, em outro lugar muito distante. Lembrei especialmente da minha melhor amiga na época e da veneração juvenil que a gente compartilhava pelo Renato Russo. O mundo parecia tão grande e tão complicado, ele era o único que parecia entender o que a gente sentia, com aquelas músicas de dois acordes e letras meio melodramáticas. Nossos problemas adolescentes eram, acima de tudo, muito importantes. As amizades, os grupinhos na escola e na rua, as pessoas que se bicavam e as que não se bicavam, os pais opressores, os romances platônicos, os sonhos para o futuro, ainda tão sem forma, mas sempre grandiosos. A gente esperava muito. Toda aquela provação da adolescência parecia ser uma preparação para o que estava por vir, para a “vida de verdade”, fosse isso lá o que fosse. Tudo era muito intenso, essa parece ser a diferença para os dias de hoje. Tenho a impressão que o mundo adulto dilui as sensações, em meio a doses crescentes de café, contas de banco que se multiplicam, decisões que se atropelam, caminhos que se escolhem por si só, pessoas que entram e saem das nossas vidas numa velocidade cada vez maior. As coisas perdem nitidez, perdem importância. E compartilhamos cada vez menos.
Rê, sinto muito, aquela pessoa não existe mais. Mas a pessoa que está aqui hoje ainda se lembra. Espero que você esteja bem.
terça-feira, 25 de maio de 2010
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